
LIMPE SUA MENTE DE TODOS OS MAUS PENSAMENTOS ABRA SEU CORAÇÃO PARA RECEBER A LUZ AGORA FAÇA DELE UMA CLAREIRA EM MEIO A MATA. LOGO ADIANTE ESTA A ESTRADA, O RIO LIMPO E SERENO PASSA ALI PERTINHO. TUDO PRONTO, VAMOS AGUARDAR OUÇA O TILINTAR DOS ARTEFATOS BATENDO UNS NOS OUTROS, OUÇA O TROTAR DOS CAVALOS, O RISO ALEGRE DAS CRIANÇAS, A VOZ FORTE DOS HOMENS E O CANTO DAS MULHERES. A ALEGRIA ESTÁ CHEGANDO E COM ELA, A CARAVANA DE LUZ.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
quinta-feira, 26 de abril de 2012
CIGANA 7 SAIAS
Cigana Sete Saias é considerada a Deusa do Amor pelo povo do oriente.
É a ela que as moças recorrem quando desesperadas por falta de amor.
A cigana 7 Saias tem esse nome por usar uma saia composta por sete cores diferentes.
A história conta que essa Cigana quando criança viu pela primeira vez o arco íris e ficou tão encantada que pediu a sua mãe que fizesse uma saia com aquelas cores.
Sempre foi muito bonita, gostava de usar jóias douradas e laços no cabelo.
Tocava pandeiro e se saía muito bem na arte de jogar cartas e leitura de mãos.
Sua família como toda de origem cigana viajava muito, e em uma dessas viagens a cigana
7 Saias conheceu aquele que foi seu grande amor.
Porém ele era um gadjo, ou seja, um não cigano.
Apaixonaram-se perdidamente e pensaram até em fugir.
Mas na tradição cigana esse amor era impossível, 7 Saias contou a sua família o que se passava
em seu coração, e obviamente foi reprimida, e seu pai, já decidido a casá-la com outro cigano a quem já havia prometido a mão, resolveu levantar acampamento e ir de encontro a outra família.
A 7 Saias nem pode se despedir de seu namorado, pois ficou fechada em sua tenda sendo vigiada
até o dia da viagem.
Durante o percurso uma dor insuportável tomava seu peito, pensando por que o amor tinha de
ser tão cruel? Tão dolorido? Apenas a tristeza lhe tomava o peito, um enorme nó na garganta,
assim nem conseguiu comer. E isso continuou por dias... dias e dias... até chegarem ao local aonde
a outra família estava instalada.
Seus pais pensavam que esse amor de jovem passaria, e que ao conhecer seu noivo 7 Saias se encantaria novamente e seria muito feliz.
Afinal já haviam visto tantos casos de ciganas que ameaçavam fugir, se matar pra não casar com
o noivo escolhido pela família e depois estarem felizes no casamento.
Esperavam isso pra filha deles.
Contudo não foi isso que aconteceu.
A 7 Saias continuou na sua tristeza profunda, reclusa, sem se alimentar direito, apenas com
aquele olhar triste e perdido para o céu.
Até que chegou o dia do casamento, porém a família que esperava naquele dia estar festejando
o enlace da filha tão querida estava ferida no coração, com muita dor.
A família do noivo recebeu então ao invés da noiva tão esperada para o filho, o corpo de uma
jovem e bela cigana morta.
Então ao invés de casamento, as duas famílias celebraram um funeral.
Como ultima homenagem, a mãe vestiu 7 Saias com sua saia favorita, a que tinha 7 véus coloridos como o arco íris.
Assim seu espírito ajuda aqueles que sofrem com problemas de amor, pede pra Dona 7 Saias que
ela lhe ajudará.
E o que ela une nada irá separar.
Cigana Sete Saias é considerada a Deusa do Amor pelo povo do oriente.
É a ela que as moças recorrem quando desesperadas por falta de amor.
A cigana 7 Saias tem esse nome por usar uma saia composta por sete cores diferentes.
A história conta que essa Cigana quando criança viu pela primeira vez o arco íris e ficou tão encantada que pediu a sua mãe que fizesse uma saia com aquelas cores.
Sempre foi muito bonita, gostava de usar jóias douradas e laços no cabelo.
Tocava pandeiro e se saía muito bem na arte de jogar cartas e leitura de mãos.
Sua família como toda de origem cigana viajava muito, e em uma dessas viagens a cigana
7 Saias conheceu aquele que foi seu grande amor.
Porém ele era um gadjo, ou seja, um não cigano.
Apaixonaram-se perdidamente e pensaram até em fugir.
Mas na tradição cigana esse amor era impossível, 7 Saias contou a sua família o que se passava
em seu coração, e obviamente foi reprimida, e seu pai, já decidido a casá-la com outro cigano a quem já havia prometido a mão, resolveu levantar acampamento e ir de encontro a outra família.
A 7 Saias nem pode se despedir de seu namorado, pois ficou fechada em sua tenda sendo vigiada
até o dia da viagem.
Durante o percurso uma dor insuportável tomava seu peito, pensando por que o amor tinha de
ser tão cruel? Tão dolorido? Apenas a tristeza lhe tomava o peito, um enorme nó na garganta,
assim nem conseguiu comer. E isso continuou por dias... dias e dias... até chegarem ao local aonde
a outra família estava instalada.
Seus pais pensavam que esse amor de jovem passaria, e que ao conhecer seu noivo 7 Saias se encantaria novamente e seria muito feliz.
Afinal já haviam visto tantos casos de ciganas que ameaçavam fugir, se matar pra não casar com
o noivo escolhido pela família e depois estarem felizes no casamento.
Esperavam isso pra filha deles.
Contudo não foi isso que aconteceu.
A 7 Saias continuou na sua tristeza profunda, reclusa, sem se alimentar direito, apenas com
aquele olhar triste e perdido para o céu.
Até que chegou o dia do casamento, porém a família que esperava naquele dia estar festejando
o enlace da filha tão querida estava ferida no coração, com muita dor.
A família do noivo recebeu então ao invés da noiva tão esperada para o filho, o corpo de uma
jovem e bela cigana morta.
Então ao invés de casamento, as duas famílias celebraram um funeral.
Como ultima homenagem, a mãe vestiu 7 Saias com sua saia favorita, a que tinha 7 véus coloridos como o arco íris.
Assim seu espírito ajuda aqueles que sofrem com problemas de amor, pede pra Dona 7 Saias que
ela lhe ajudará.
E o que ela une nada irá separar.
terça-feira, 17 de abril de 2012
CIGANA MARIA DOLORES
Vermelho e dourado são suas cores de coração, visto se agradar com os mais variados tons.
Suas magias são feitas na rua e à noite, com a aprovação e a cumplicidade do luar.
Gosta de receber oferendas pra se enfeitar; tais como brincos, colares, pulseiras, xales, lenços coloridos e batons. Também não dispensa um bom vinho tinto para tomar entre amigos em calorosas celebrações pela vida.
Gosta de música, é alegre e festeira, porém discreta e misteriosa quando o assunto é sobre o anel que carrega na mão esquerda, já que este guarda um segredo que não se pode revelar.
A
cigana Maria Dolores trabalha para unir casais, retirando todos os obstáculos
dos caminhos de quem por ela chamar, inclusive à distância - um dos maiores
empecilhos para os muitos e muitos corações apaixonados.
Todavia, se não houver amor entre as partes, ela não aceita intervir na união.
Quando vê perigo nos caminhos de seus protegidos, Maria Dolores convida um Cigano Espiritual de sua confiança para ajudá-la a criar uma sólida corrente energética que impeça o mal de chegar a quem está sob os seus cuidados.
Para afastar a inveja e o mal-olhado, esta Cigana sempre aconselha que as pessoas carreguem um amuleto de Trevo.
Todavia, se não houver amor entre as partes, ela não aceita intervir na união.
Quando vê perigo nos caminhos de seus protegidos, Maria Dolores convida um Cigano Espiritual de sua confiança para ajudá-la a criar uma sólida corrente energética que impeça o mal de chegar a quem está sob os seus cuidados.
Para afastar a inveja e o mal-olhado, esta Cigana sempre aconselha que as pessoas carreguem um amuleto de Trevo.
CIGANA SALOMÉ
Com cabelos longos e ondulados, e olhos profundamente
negros
usa na cabeça um adorno de ouro que ganhou de seu pai e no
pescoço um
cordão de ouro herança de sua mãe.
Sua
voz é doce, mas sua palavra é de ferro, pois sabe mandar, mas ao mesmo tempo
acolhe seus protegidos com amor e carinho, e os livra de muitas perseguições,
pois esta cigana é justiceira, e luta por quem nela tem fé.Esta cigana é
maravilhosa, a beleza de Salomé era marcante e
exótica.
Excelente vidente e tiradora de cartas era
sempre procurada também por suas magias fortíssimas para união de casais que se
amavam, mas que estavam separados, para devolver a saúde à pessoas doentes,
etc, e Salomé sempre ganhou muitas jóias de moedas de ouro que foram guardadas
em um baú que era só dela.
Quando Salomé
morreu, o povo do povoado onde nasceu lamentou muito a sua partida, pois ela se
fez muito querida, e sempre passava por lá com a sua caravana, até o dia de sua
morte. Após o seu falecimento o espírito de Salomé recebeu muitas e muitas orações de agradecimento e sua alma iluminou-se de tal modo que aqueles que tem o dom de vidência logo a reconhecem pela luz que se manisfesta à distância, e o cheiro de jasmins frescos do campo.
Salomé cuida muito bem de seus protegidos, mas não admite mentiras ou traições, ela é muito justa.
Quem tem esta cigana na aura, é extremamente intuitiva, e tem tendências a explosões de humor.
A cigana Salomé tem uma força espiritual muito grande, desde menina era vidente e clarividente (ouvia espíritos), antepassados que lhes mostravam tudo o que deveria aprender.
Encantadora, muitos homens se apaixonaram por ela, ciganos ou não,
e ela sempre ganhava muitos presente por sua beleza, mas era muito desconfiada e não entregava o seu amor à ninguém.
Salomé amou uma única vez na vida, mas o seu amor morreu primeiro que ela, lhe deixando muitas saudades e muita dor.
Dona de uma vontade de ferro quando batia o pé, nada a o movia do que queria, mas também profundamente justa, e tinha muita compaixão por idosos e pessoas doentes, e adorava crianças. Salomé era muito procurada pela força de sua magia, e ganhou muitas moedas de ouro e jóias por resolver problemas de amor, doença e unir casais que se amavam mas que estavam separados.
Salomé detesta pessoas mentirosas e falsas e mais ainda pessoas "espertalhonas" que gostam de lesar os outros.
Salomé inspira meiguice, mas tem palavra de ferro quando quer.
Suas cores são: amarelo, dourado, marrom, laranja,cobre, amarelo claro, areia, e seus horários são sempre após o sol se por, pois ao por do sol, Salomé tem saudades de seu amor.
Espírito iluminado, alguns médiuns sentem a sua presença, com o perfume de jasmins do campo que acompanha a sua linda alma, de uma impressionante luminosidade.
Sua flor favorita é o jasmin e a rosas branca, em suas mãos, geralmente se vê uma flor de jasmin branco, ou um ramalhete de jasmins. Tem a aparência de uma menina e a sabedoria de uma
mulher idosa.
Salve Salomé
sábado, 14 de abril de 2012
TRADIÇÃO E COSTUMES CIGANOS
Os ciganos nos legaram bens preciosos como: o amor, a liberdade e a
natureza, a sabedoria de viver e os conhecimentos esotéricos pelos quais
é possível desvendar muitos de nossos segredos existênciais, portanto, é
hora dessa cultura fascinante e polêmica ser reconhecida e respeitada.
Um grande rio corta a região noroeste da Índia, onde fica hoje o Paquistão. Seu nome é Indu e das suas margens partiu, expulsos por invasores árabes há quase 3 mil anos, Um povo amante da música, das cores alegres e da magia.
Este pelo menos, é a explicação dos estudiosos para a origem dos ciganos.
E o que a fundamental é a semelhança do romanê idioma falado pelos ciganos
com o sânscrito, a língua falada clássica indiana.
O que não se sabe ainda é se esses eternos viajantes pertenciam a uma casta
inferior dentro da hierarquia indiana ou uma casta aristrocrática e militar.
Independente de qual fosse seu status, a partir do êxodo pelo Oriente,
os ciganos se dedicaram com exclusividade a atividades intinenrantes como: ferreiros, domadores, criadores e vendedores de cavalos, saltibancos,
comerciantes de miudezas, e praticantes das artes divinatórias.
Viajavam sempre em grandes carroções coloridos e criaram nomes poéticos
para si próprios: filhos das estrêlas, irmãos das águas, viajantes do vento
e povo das estradas.
Das estrelas, com certeza. Pois os ciganos simplesmente têm pavor do mar e
só põe os pés num barco se forem obrigados, tanto que não há registro de marinheiros ou pescadores entre eles.
É falso, porém, achar que o gosto pelas viagens seja o único fator responsável
pelo nomandismo desse povo.
Por trás de todas essas mudanças, há também uma história de perseguições
e fugas.
Na Moldávia e na Valáquia, atual Romênia, os ciganos foram escravizados
durante 300 anos; na Albânia e na Grécia pagavam impostos mais altos.
Também na Hungria conheceram a escravatura. E os ingleses expulsavam, sob pena de morte, aqueles que se recusavam a fixar residência.
Na Alemanha, crianças ciganas eram tiradas dos pais com a desculpa de que
"iriam estudar", enquanto a Polônia, a Dinamarca e a Áustria puniam com severidade quem os acolhesse.
Pior ainda nos Países Baixos, onde inúmeros ciganos foram condenados à forca e seus filhos obrigados a assistir à execução para aprender a "lição de moral".
Apenas no País de Gales eles tiveram espaço para manter parte das suas tradições
e a língua. Uma tolerância que os levou a se sedentarizar e a se misturar com a população local, dando origem aos ciganos mistos.
Da mesma forma, na região da Andaluzia (Espanha), encontraram facilidades e se estabeleceram. Mesmo assim, durante a inquisição católica, vários deles foram expulsos pelos tribunais do Santo Ofício.
Dessa vez, não tiveram escolha: envíados para as gáles em Portugal e na Espanha, cruzaram o mar rumo ao degredo nas colônias africanas, asiáticas e americanas.
Como pode-se ver a história dos ciganos não é só de alegria, música e dança, mas
também de perseguições e preconceitos.
O povo cigano experiência o mais amplo sentido de liberdade.
Não tem apego a nenhum lugar em especial, não deixa raízes que não possam
ser arrancadas quando o desejo de ganhar estrada acontecer.
O verdadeiro nômade é livre como o vento e pode estar em um lugar quando
o sol nasce e em outro quando chega o poente.
Para ele é importante o momento presente.
O passado é experiência e vivência já conquistada e o futuro uma expectativa aventureira, que ele entrega ao Poder Maior.
As populações ciganas são nômades por excelência, não têm pátria, são universais
e não possuem títulos monárquicos como reis, rainhas, ou outros que signifiquem máximo poder de governo.
Viajam em grupos de famílias, que possuem um profundo sentido de união, solidariedade e companheirismo. Formam núcleo comunitários compactos com normas e regras de convivência harmoniosa.
Os ciganos acreditam que somente podem ser felizes entre os ciganos, por isso as crianças frequentam a escola por um curto tempo, o suficiente para aprender ler
e escrever o indioma do país local e fazer as operações matemáticas mais simples. Pois quando maiores precisarão destes conhecimentos para desempenharem as tarefas do mundo moderno e com isto ganhar a vida honestamente.
Na sociedade cigana, o homem representa o esteio e o braço forte da família, a mulher significa o lado terno e de proteção espiritual dos lares ciganos.
As ciganas não trabalham fora do lar e quando vão as ruas para ler a sorte é
como um cumprimento de tradição e não como parte do sustento da família.
Tanto as ciganas solteiras como as casadas são muito faceiras, insinuantes e provocantes, em particular quando dança.
Os bebês ciganos atualmente também são registrados em cartórios e levados a pia bastimal . Contudo, os ciganos possuem além do nome oficial, um nome secreto, escolhido pela mãe, e soprado em seus ouvidos nos primeiros instantes após o nascimento.
Possuem, um terceiro nome o qual é conhecido na população local.
A festa de casamento, é uma das mais bonitas, quando realizadas dentro das tradições.
Enfim, existe toda uma tradição entre esse povo e ficaria dificil enumerá-las aqui. Entretanto, podemos observar que as leis e costumes ciganos são severos e rígidos em vários aspectos, porém, são estas atitudes muitas vezes rigorosas que mantém vivo o povo cigano, ainda possuidor de inúmeras de suas tradições.
Apesar do convívio direto ou indireto com os gajos.
Os ciganos nos legaram bens preciosos como: o amor, a liberdade e a
natureza, a sabedoria de viver e os conhecimentos esotéricos pelos quais
é possível desvendar muitos de nossos segredos existênciais, portanto, é
hora dessa cultura fascinante e polêmica ser reconhecida e respeitada.
Um grande rio corta a região noroeste da Índia, onde fica hoje o Paquistão. Seu nome é Indu e das suas margens partiu, expulsos por invasores árabes há quase 3 mil anos, Um povo amante da música, das cores alegres e da magia.
Este pelo menos, é a explicação dos estudiosos para a origem dos ciganos.
E o que a fundamental é a semelhança do romanê idioma falado pelos ciganos
com o sânscrito, a língua falada clássica indiana.
O que não se sabe ainda é se esses eternos viajantes pertenciam a uma casta
inferior dentro da hierarquia indiana ou uma casta aristrocrática e militar.
Independente de qual fosse seu status, a partir do êxodo pelo Oriente,
os ciganos se dedicaram com exclusividade a atividades intinenrantes como: ferreiros, domadores, criadores e vendedores de cavalos, saltibancos,
comerciantes de miudezas, e praticantes das artes divinatórias.
Viajavam sempre em grandes carroções coloridos e criaram nomes poéticos
para si próprios: filhos das estrêlas, irmãos das águas, viajantes do vento
e povo das estradas.
Das estrelas, com certeza. Pois os ciganos simplesmente têm pavor do mar e
só põe os pés num barco se forem obrigados, tanto que não há registro de marinheiros ou pescadores entre eles.
É falso, porém, achar que o gosto pelas viagens seja o único fator responsável
pelo nomandismo desse povo.
Por trás de todas essas mudanças, há também uma história de perseguições
e fugas.
Na Moldávia e na Valáquia, atual Romênia, os ciganos foram escravizados
durante 300 anos; na Albânia e na Grécia pagavam impostos mais altos.
Também na Hungria conheceram a escravatura. E os ingleses expulsavam, sob pena de morte, aqueles que se recusavam a fixar residência.
Na Alemanha, crianças ciganas eram tiradas dos pais com a desculpa de que
"iriam estudar", enquanto a Polônia, a Dinamarca e a Áustria puniam com severidade quem os acolhesse.
Pior ainda nos Países Baixos, onde inúmeros ciganos foram condenados à forca e seus filhos obrigados a assistir à execução para aprender a "lição de moral".
Apenas no País de Gales eles tiveram espaço para manter parte das suas tradições
e a língua. Uma tolerância que os levou a se sedentarizar e a se misturar com a população local, dando origem aos ciganos mistos.
Da mesma forma, na região da Andaluzia (Espanha), encontraram facilidades e se estabeleceram. Mesmo assim, durante a inquisição católica, vários deles foram expulsos pelos tribunais do Santo Ofício.
Dessa vez, não tiveram escolha: envíados para as gáles em Portugal e na Espanha, cruzaram o mar rumo ao degredo nas colônias africanas, asiáticas e americanas.
Como pode-se ver a história dos ciganos não é só de alegria, música e dança, mas
também de perseguições e preconceitos.
O povo cigano experiência o mais amplo sentido de liberdade.
Não tem apego a nenhum lugar em especial, não deixa raízes que não possam
ser arrancadas quando o desejo de ganhar estrada acontecer.
O verdadeiro nômade é livre como o vento e pode estar em um lugar quando
o sol nasce e em outro quando chega o poente.
Para ele é importante o momento presente.
O passado é experiência e vivência já conquistada e o futuro uma expectativa aventureira, que ele entrega ao Poder Maior.
As populações ciganas são nômades por excelência, não têm pátria, são universais
e não possuem títulos monárquicos como reis, rainhas, ou outros que signifiquem máximo poder de governo.
Viajam em grupos de famílias, que possuem um profundo sentido de união, solidariedade e companheirismo. Formam núcleo comunitários compactos com normas e regras de convivência harmoniosa.
Os ciganos acreditam que somente podem ser felizes entre os ciganos, por isso as crianças frequentam a escola por um curto tempo, o suficiente para aprender ler
e escrever o indioma do país local e fazer as operações matemáticas mais simples. Pois quando maiores precisarão destes conhecimentos para desempenharem as tarefas do mundo moderno e com isto ganhar a vida honestamente.
Na sociedade cigana, o homem representa o esteio e o braço forte da família, a mulher significa o lado terno e de proteção espiritual dos lares ciganos.
As ciganas não trabalham fora do lar e quando vão as ruas para ler a sorte é
como um cumprimento de tradição e não como parte do sustento da família.
Tanto as ciganas solteiras como as casadas são muito faceiras, insinuantes e provocantes, em particular quando dança.
Os bebês ciganos atualmente também são registrados em cartórios e levados a pia bastimal . Contudo, os ciganos possuem além do nome oficial, um nome secreto, escolhido pela mãe, e soprado em seus ouvidos nos primeiros instantes após o nascimento.
Possuem, um terceiro nome o qual é conhecido na população local.
A festa de casamento, é uma das mais bonitas, quando realizadas dentro das tradições.
Enfim, existe toda uma tradição entre esse povo e ficaria dificil enumerá-las aqui. Entretanto, podemos observar que as leis e costumes ciganos são severos e rígidos em vários aspectos, porém, são estas atitudes muitas vezes rigorosas que mantém vivo o povo cigano, ainda possuidor de inúmeras de suas tradições.
Apesar do convívio direto ou indireto com os gajos.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
MADALENA A CIGANA
A cigana Madalena era uma mulher muito alegre, terna e de muita força e fé na vida.
Jamais deixava a tristeza abater quem quer que fosse, tinha sempre uma palavra de animo
e consolo para seu grupo.
Foi sempre um alento para as horas difíceis.
Quando seu grupo teve que sair de um país, ela foi a grande amiga, conselheira e todos
vinham se aconselhar com ela.
Gostava de dançar, sentia imensamente cada emoção humana.
Era bela, forte, sensível, terna.
Quando precisava também sabia chamar a atenção, mas sempre de forma positiva.
Ninguem conseguia esquecer sua dança.
Ela era assim lembrada pelo seu povo:
Como mãe, amiga e mulher.
Vem cigana Madalena
com safiras no olhar
tua saia azul esvoaça
vem me ensinar a dançar.
Quando danças teu véu esconde
um misterioso enigma,
de quem muito já viveu
aprendendo com a vida.
Sois um misto de tudo,
mãe, amiga e mulher,
tens a ironia divertida
de quem sabe o que quer.
Sois dona de um perfume,
raro, suave e sedutor,
perfume que a tudo encanta,
o teu nome é AMOR.
domingo, 8 de abril de 2012
SALVE O DIA INTERNACIONAL DOS CIGANOS
A cultura cigana é marcada pela exclusão, intolerância, injustiças e preconceitos que a castigam há séculos. Oriundos da Índia, a dispersão dos ciganos pelo mundo foi iniciada há mil anos, quando rumaram para a Europa e o Oriente Médio. Escravos na Romênia no período da Idade Média durante 400 anos, perseguidos pelos nazistas, tendo por volta de 500 mil de seus filhos assassinados nos campos de concentração, eternos estrangeiros, povo sem pátria, ladrões de galinhas e criancinhas, os ciganos seriam os “novos judeus” (Fonseca, 1996).
De uma exclusão itinerante desde a Índia, a diáspora cigana pelo mundo configurou-se em sucessivos êxodos que a caracterizaram como uma cultura caracteristicamente nômade (Alexandre, 2003; Teixeira, 2000). Os ciganos também tiveram uma história mística e romantizada, decorrente principalmente das práticas relacionadas à quiromancia, que contribuiu para atenuar a dura trajetória vivida pelos grupos nos mais diversos países (Ferrari, 2006; Fonseca, 1996; Vaz, 2005). Atualmente formam uma população que conta com aproximadamente doze milhões e meio de habitantesemtodo o mundo (Coutinho, 2002).
A discriminação contra os ciganos atravessou séculos e ainda se faz presente nos dias atuais. Os estereótipos de ladrões, vagabundos, a atribuição de características negativas, sentimentos de hostilidade e o medo são responsáveis por perseguições constantes registradas nos mais diferentes países. Ainda no ano de 2008, acompanhamos a destruição de seis acampamentos ciganos na cidade de Nápoles (sul da Itália), incendiados por civis, homens e mulheres italianos, enquanto as autoridades políticas providenciavam o despejo de 2500 ciganos, forçando uma retirada em massa chamada de “o êxodo pelo medo” (Giornale La Republica - Itália). Também na Romênia podem ser identificadas as marcas da xenofobia, com freqüentes registros de extermínio das comunidades ciganas, fruto de uma história de opressão datada de 400 anos de escravidão vividos pelos ciganos neste país (Fonseca, 1996).Aexclusão da população cigana das instituições escolares, as dificuldades do acesso à assistência à saúde, entre outras restrições aos direitos civis, também confirmam a marginalização à qual foram e continuam sendo lançados.
No Brasil a questão não é menos grave, considerando a invisibilidade social vivida pelos gitanos quanto aos seus direitos, o que é alimentado pela ausência de políticas pró-ciganas por parte do Governo Brasileiro. Na Europa, os anos de 2005 a 2015 foram escolhidos para se promover políticas a favor da comunidade cigana, sendo este período conhecido como “La Década para la Inclusión de los Gitanos“ (Dossier, 2005), o que pode ser também entendido como o cumprimento pelos países membros, das exigências estabelecidas pela União Européia. Os países deverão trabalhar as questões étnicas internamente, buscando soluções para os conflitos entre os cidadãos reconhecidamente nacionais e grupos originários de outras nações ou etnias.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - BRASIL 500 ANOS), os ciganos teriam chegado ao Brasil por volta de 1574, vindos de Portugal junto com imigrantes e pessoas banidas da Europa.OGoverno Brasileiro ainda não tem dados oficiais acerca das comunidades ciganas existentes em seu território, mas se estima que mais de meio milhão de ciganos estejam vivendo no Brasil, muitos deles sem registro de nascimento. No entanto, o descaso do Governo Brasileiro com esta população é evidenciado pelos séculos de esquecimento, visto que a questão cigana só começou a ser discutida oficialmente em 2002, através do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), que tem como primeira iniciativa o reconhecimento de sua especificidade cultural. A proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais dos ciganos, o apoio à realização de estudos e pesquisas sobre a história, cultura e tradições da comunidade cigana, o estímulo aos municípios nos quais estejam presentes assentamentos ciganos com vista ao estabelecimento de áreas de acampamento dotadas de infra-estrutura e a sensibilização dos próprios ciganos para a necessidade de realização do registro de nascimento dos filhos, assim como o apoio a medidas destinadas a garantir o direito ao registro de nascimento gratuito para as crianças ciganas, foram alguns encaminhamentos, fruto das discussões doPNDH(Brasil, 2002).
É fato que as intervenções através das políticas públicas voltadas para as comunidades ciganas brasileiras são ainda muito tímidas. Contudo, vencer o preconceito generalizado e já amalgamado nas práticas sociais dirigidas ao povo cigano consiste em uma tarefa de longo prazo, que demanda, além de políticas governamentais, o interesse da comunidade científica.
Etnia e identidade social: construindo a ciganidade em território calon
A perspectiva de análise sustentada na Teoria das Identidades Sociais mostra-se como um interessante caminho para a compreensão das dinâmicas identitárias implicadas no contexto do grupo cigano. Entende-se, neste estudo, a identidade social “como aquela parcela do autoconceito dum indivíduo que deriva do seu conhecimento da sua pertença a umgrupo (ou grupos) social, juntamente com o seu significado emocional e de valor associado àquela pertença” (Tajfel, 1983, p. 290). Dessa forma, possuímos tantas identidades quantos sejam os grupos sociais aos quais julgamos pertencer. É importante compreender que o entendimento de grupo, de acordo com esta perspectiva teórica, é a de grupo psicológico. Assim, não basta que os indivíduos compartilhem de espaços comuns e de relações face-a-face, o grupo é entendido como “uma entidade cognitiva com grande significado para o indivíduo num determinado momento” (Tajfel, 1983, p. 289).Opertencimento a umgrupo psicológico refere-se à pertença emocional, cognitiva e valorativa, que reflete a imagem que o indivíduo tem de si, tendendo sempre à busca de uma imagem socialmente positiva.
A constituição da identidade social é fruto de um processo relacional e cultural. Relacional na medida em que se refere à interação entre pessoas, a partir da definição de um “nós” e de um“outro”, de quem nos distinguimos ou a quem nos opomos. É cultural porque está relacionada ao universo social de inserção do sujeito, no qual há sentimentos e valores a respeito dos seus membros, códigos de comunicação e práticas de simbolismo identitário (Dubar, 1991). A dimensão cultural ainda se relaciona a processos de categorização social que, segundo Tajfel (1983, p. 291), “é o processo através do qual “se reúnem os objectos ou acontecimentos sociais em grupos, que são equivalentes no que diz respeito às acções, intenções e sistemas de crenças do indivíduo”(sp). A categorização social permite ao indivíduo orientar-se e definir o seu lugar na sociedade. Dinamizando o processo de categorização social, temos a comparação social que permite evidenciar o conflito entre o endogrupo (o “nós”) e o exogrupo (o “outro”), sendo este processo fundamental para a construção da identidade, pois é através deste confronto que o campo de identificação é traçado (Hogg & Abrams, 1999).
Nesta perspectiva, pertencer ao grupo étnico cigano exige de seus membros, como aponta Mendes (2000), lealdade ao grupo e aos valores estruturadores da organização social, sendo preciso também que o indivíduo assimile e incorpore aspectos que facilitem o seu contato com o “outro”. E este contato com o “outro” é contínuo, seja pela interação com vizinhos ou a partir das viagens que os ciganos realizam e que em alguns grupos são constantes.
A identidade do grupo étnico cigano é marcada por valores que são basilares em sua estrutura social e as relações de parentesco são fundamentais no ordenamento dessas relações. Mendes (2000) nos diz que “a pertença a um grupo parental é o fundamento de uma pessoa como membro de direito dentro da comunidade”. A autora ainda aponta outras características da cultura cigana que estruturam as relações estabelecidas entre os seus membros, como o respeito aos mais velhos, a importância atribuída à virgindade da mulher, o cumprimento dos acordos estabelecidos entre as famílias, aspectos fortemente relacionados à instituição familiar. Com igual importância, o gênero também estrutura as relações sociais e guia os homens e as mulheres de acordo com as tarefas que cada um realiza. Ao homem cigano, cabe o provimento material da família, enquanto a mulher cigana restringe as suas atividades aos serviços domésticos e aos cuidados com as crianças.
Como pudemos acompanhar, o desconhecimento relacionado ao universo simbólico dos grupos ciganos está umbilicalmente ligado a uma “identidade negativa” amplamente difundida no imaginário social (Alexandre, 2003; Fonseca, 1996; Silva & Silva, 2000). Discriminação, medo, rejeição e horror os mantiveram sempre apartados das relações sociais positivas com a sociedade não-cigana, apesar da apropriação de sua imagem mística pelos gadjés (não-ciganos). Seu povo, no entanto, permanece como eterno estrangeiro, apesar dos cinco séculos de vivência no território brasileiro. A verdade é que sabemos ainda muito pouco sobre como realmente vivem essas mulheres e esses homens que, além de ciganos, são também cidadãos brasileiros.
Cultura cigana: um universo a ser conhecido
A revisão da literatura evidenciou que pouco se tem estudado acerca da população cigana e suas formas de organização. No campo da psicologia a situação não é diferente. Neste sentido, realizar um estudo que procure contemplar a questão cigana, sobretudo no campo das identidades sociais, mostra-se relevante tanto pela contribuição científica como pela disponibilização de subsídios à construção de políticas públicas mais coerentes com a realidade vivida por esta população. É interessante ressaltar que, muitas vezes, a visão estereotipada sobre esta população pode mediar práticas de exclusão no campo das políticas públicas, seja por reforçar a representação negativa associada aos ciganos ou mesmo pelo total “esquecimento” de sua existência. Sobre essa questão, Souza (2004) nos alerta para o perigo da construção das categorias negativas e sua interferência nas políticas públicas, pois ao “[...] considerar que eu e meu grupo não somos afetados, nem somos responsáveis pelo problema, não há compromisso com a solução, e os grupos marginais internos e os estrangeiros são novamente penalizados” (p. 65-66).
A recente preocupação do Governo Brasileiro com a elaboração de políticas de identidade dirigidas às comunidades ciganas existentes em seu território denuncia a falta de conhecimento científico acerca dessa etnia, convidando a comunidade acadêmica a desenvolver pesquisas que orientem as políticas públicas voltadas a esta população.
Nesse sentido, o presente estudo - de caráter descritivo - propõe como objetivo geral conhecer como homens e mulheres, ciganos e ciganas constroem sua identidade étnica a partir das relações endo e exogrupais estabelecidas pela comunidade calon. De forma mais específica, objetivamos identificar, descrever e analisar as significações do que é ser cigano para homens e mulheres adultos de uma comunidade calon; conhecer a dinâmica grupal interna à comunidade cigana, além de investigar as concepções dos participantes acerca das relações entre os universos culturais cigano e não-cigano.
Espera-se que os resultados da pesquisa possam gerar subsídios para a reflexão sobre as políticas públicas produzidas para os homens e mulheres ciganos e também provoquem maior interesse da comunidade científica na investigação dessa categoria social ainda tão pouco conhecida.
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS
Tendo em vista o objetivo de investigação dos processos identitários na dinâmica da comunidade calon, participaram da pesquisa 07 homens ciganos e 10 mulheres ciganas, pertencentes à etnia calon de uma comunidade cigana brasileira. No grupo de mulheres, 04 são chamadas “moradeiras” (oriundas do povo que mora em casas) ou Gadjin (do romanês “mulher não cigana”), que correspondem às mulheres que se casaram com homens ciganos e assimilaram as características da cultura cigana, reconhecendo-se como ciganas. A coleta dos dados foi realizada na própria comunidade, individualmente, segundo a disponibilidade de cadaumdos participantes.
Assim como outros grupos ciganos do Estado, essa comunidade apresenta a característica de se situar às margens do asfalto, nos arredores da cidade. O grupo investigado já se encontra em processo de fixação territorial e as viagens ciganas são agora vividas não por um processo de exclusão pelos grupos não ciganos, mas como uma escolha da própria comunidade, em função de seus interesses culturais.
Foram realizadas entrevistas individuais com roteiro semi-estruturado, contendo questões sobre o cotidiano das pessoas do grupo, conjunto de normas para homens e mulheres, relação entre ciganos e não ciganos e sobre o que seria a ciganidade ou ser cigano. Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para processamento do corpus de dados coletado.
Procedeu-se a análise dos dados através do software ALCESTE (Analyse Lexicale par Contexte d'um Ensemble de Segments de Texte) - (Reinert, 1990). Este software organiza o banco de dados coletados (as entrevistas) a partir de duas unidades básicas de análise - a Unidade de Contexto Inicial (UCI), sendo que cada entrevista corresponde a uma UCI e a Unidade de Contexto Elementar (UCE), que são fragmentos do corpus selecionados pelo programa. O ALCESTE realiza uma Classificação Hierárquica Descendente gerando um dendrograma, uma disposição dos resultados através do posicionamento de classes em forma de uma árvore. Esta estruturação dos dados permite a visualização da análise estatística realizada da seguinte forma: apresentação das palavras representativas de cada classe, a força de ligação entre as classes, a porcentagem de cada classe no corpus analisado e a quantidade de UCEs pertencente a cada categoria (Bonomo, Trindade, Souza&Coutinho, 2008).
Neste artigo serão apresentados os resultados organizados pelo software Alceste na Classificação Hierárquica Descendente. Para o tratamento dos dados, foram organizados dois corpora: um corpus com as entrevistas feitas com os homens e outro com as entrevistas realizadas com as mulheres. Estes foram submetidos ao software ALCESTE sendo criados dois dendrogamas, um para cada grupo analisado. Foi utilizado ainda, como recurso complementar, a Análise de Conteúdo Temática, como proposta por Bardin (2002). Esta análise permite identificar as unidades de significado mais gerais, relacionadas a temas considerados nucleares ou de grande relevância para o discurso construído sobreumdeterminado objeto.
Da exclusão à cultura de liberdade
Os resultados serão apresentados a partir dos dendrogamas gerados, um referente ao grupo dos homens ciganos e o outro relativo ao grupo das mulheres ciganas. Das 07 entrevistas referentes ao corpus dos homens ciganos, o software analisou 77% do conteúdo, selecionando 230 UCEs. Das 10 entrevistas realizadas com as mulheres ciganas, o aproveitamento do corpus foi de 71%, com seleção de 207 UCEs. Avaliando os dois corpora analisados, pode-se considerar que houveumbom aproveitamento estatístico dos bancos processados pelo programa ALCESTE. Nos dendrogramas que serão apresentados, cada classe é composta por 10 palavras que foram selecionadas, em ordem decrescente, a partir do valor do qui-quadrado de cada palavra.
Grupo dos homens ciganos
O software permitiu uma análise do material a partir de dois eixos. No primeiro eixo temos duas classes que compõem o discurso endogrupal. No segundo eixo, apenas uma classe aparece e esta diz respeito ao contato do grupo cigano com o “outro”, que pode ser tanto um grupo cigano quanto um grupo não-cigano. Segue abaixo a figura que apresenta esta configuração.

No primeiro eixo observa-se uma ligação entre as classes 1 e 3 (R = 0,33). A classe 1 refere-se ao discurso dos homens ciganos falando de algumas das tradições ciganas, as festas e o estilo da moradia. As festas, para os ciganos, são uma forma de destacar socialmente aspectos do grupo que são positivos. Dessa maneira, conseguem transmitir a imagem de que os ciganos são festivos e alegres, assegurando uma auto-imagem positiva do grupo, assim como Tajfel (1983) sugere ao afirmar que os grupos e os indivíduos esforçam-se para assegurar uma auto-imagem satisfatória.
A crença dos ciganos também aparece nessa classe, ligada aos festejos do dia dos santos dos quais são devotos. Essa crença revela um sincretismo existente na cultura cigana, que assimila, por exemplo, traços do catolicismo, do protestantismo e do candomblé. Mendes (2000) informa que o pertencimento ao grupo étnico cigano implica assimilação e incorporação de elementos que facilitem o contato com o “outro”; assim, o sincretismo religioso é uma forma de proporcionar um contato mais harmônico do grupo cigano com os demais grupos ao seu redor, os grupos não-ciganos.
A partir da análise dos dados coletados com os homens ciganos observa-se que o discurso mais forte é o que valoriza as normas, as características e as relações endogrupais. A cultura cigana foi e é alvo de constantes injustiças e preconceitos, sendo afetada constantemente por uma representação negativa, aliada a sentimentos de hostilidade e repulsa por parte da população não cigana. A força do discurso endogrupal pode ser entendida como uma estratégia para reafirmar o que os ciganos têm de positivo, com o intuito de evidenciar para o grupo não cigano as características de sua etnia que se contrapõem às representações clássicas dessa população como portadora de uma cultura inferior e perigosa. Afinal, no imaginário social sobre os ciganos não é raro encontrar histórias e crendices carregadas de elementos negativos, fortalecidos por alguns fatos ruins ocorridos nas regiões que eles habitam.
Grupo das mulheres ciganas
O dendrograma relativo aos dados coletados com as mulheres ciganas foi também dividido em dois eixos. No primeiro, temos as classes 1 e 3, fortemente ligadas (R = 0,73), que tratam da misoginia. O outro eixo é estruturado a partir de três classes que dizem respeito à mulher no grupo cigano. Neste eixo, as classes 4 e 5 estão fortemente ligadas (R = 0,5) e a classe 2 liga-se às classes 4 e 5 com menos força (R = 0,27). A figura 2, apresentada abaixo, refere-se ao dendrograma das mulheres ciganas.

A honra masculina na cultura cigana é considerada fundamental e o homem pode ser desonrado tanto por sua esposa, caso ela o traia, quanto pelas filhas, caso percam a virgindade antes do casamento ou se surgirem boatos a respeito de sua integridade moral. Mendes (2000) enfatiza que a virgindade feminina é uma questão muito importante em uma sociedade patrilinear que atribui grande valor à instituição familiar. Essa situação faz com que as mulheres ciganas despertem medo nos homens, visto que têm o poder de controlar a honra masculina, fato que explica algumas das práticas adotadas nessa cultura.
Na classe 1 o discurso das mulheres ciganas refere-se à prática de dar as meninas calins logo após o parto. As mulheres dizem que os homens ciganos sentem medo de criá-las devido à ameaça que estas meninas representam para eles e suas famílias. As calins provocam nos homens o pior dos medos que um cigano pode sentir: o medo da desonra, que gera uma verdadeira misoginia, ou seja, o medo ou a aversão a tudo o que é ligado ao feminino (Delumeau, 1989; Dottin-Orsini, 1996). As ciganas devem ser criadas, então, com bastante atenção e esse papel recai sobre a mãe. As meninas ciganas não podem brincar com meninos, aproximadamente a partir dos 8 anos de idade, e também não podem namorar antes de casar, para que a virgindade seja assegurada. Mendes (2000) aponta que para os ciganos, a castidade da mulher é o que garante seu valor e o que a torna uma mulher de respeito, pois sendo virgem, a cerimônia do casamento cigano será festejada em toda sua plenitude. Ao provar a sua virgindade a mulher cigana garante a honra de sua família e, consequentemente, de toda a etnia cigana.
Magano e Silva (2000) discutem que os ciganos não concebem o trabalho como na sociedade não cigana, que é voltada para a produção e consumo de bens, segundo um arranjo cotidiano compromissado com a circulação de capital; os ciganos, pelo contrário, procuram um estilo de vida mais livre e independente que lhes possibilite ser donos do seu destino, conforme sua cultura os orienta e ensina a viver. Esta é uma questão interessante a ser tratada, já que a imprevisibilidade é inerente a uma vida itinerante, nômade. A arrumação da barraca é diferenciada, sendo já preparada para a possibilidade de ter que viajar. Na cultura cigana vive-se o presente de forma intensa, o futuro é percebido como “o hoje” e o grupo se esforça para esquecer o passado. Esta parece ser a estratégia escolhida para obscurecer um passado cheio de dificuldades, perseguições e discriminações, enfim, uma forma de não se falar de ocorrências negativas que afetem a percepção do grupo como um grupo alegre, livre, festivo e solidário. Dessa forma, a cultura cigana caracteriza-se por ser uma cultura hedonista (Vaz, 2005), que sempre busca um prazer momentâneo, vivendo cada dia, sem um planejamento para o futuro.
A dimensão mística da cultura cigana, com a prática da leitura de mãos, é também citada nessa categoria, no entanto, ela não é descrita como uma prática existente na comunidade e sim como uma característica da cultura cigana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos dados coletados permitiu-nos identificar dois importantes elementos, que parecem ser fundamentais na estruturação das relações estabelecidas na cultura cigana - a rígida hierarquia de gênero e a relação parental.
Dados semelhantes foram encontrados nos estudos realizados por Magano e Silva (2000), Mendes (2000) e Fonseca (1996) acerca da organização endogrupal centralizada na instituição familiar, sob a estratégia dos casamentos endogâmicos, bem como a relação hierárquica estreitamente marcada entre homens e mulheres, sobretudo representado no ritual da prova da virgindade feminina e no rigor quanto à fidelidade da mulher (Mendes, 2000). Contudo, não encontramos na revisão de literatura referência à prática do abandono de meninas calins logo após o parto, prática esta que irá refletir numa busca de mulheres não ciganas durante as viagens e, consequentemente, a entrada de membros do grupo não cigano na comunidade calon.
Embora os diferentes grupos ciganos bebam de uma fonte cultural comum e cultivem um sistema nuclear centrado em um conjunto de crenças, normas e valores que os orientam como membros de uma mesma etnia, é possível identificar especificidades das práticas sociais dos diferentes grupos para estrategicamente se manterem coerentes com este sistema simbólico compartilhado. Podemos pensar que a própria prática de abandono das meninas ciganas é uma forma de garantir e preservar o que é central para o grupo cigano: honrando o homem, toda a etnia é honrada, pois somente ele tem o poder de transmitir aos seus filhos a ciganidade (Fonseca, 1996; Bonomo, Souza &Trindade, 2007).
A Lei Cigana, apreendida a partir do relato dos entrevistados, estabelece o que “pode” e o que “não pode” ser feito por mulheres e homens ciganos e reflete a hierarquia de gênero constituinte da cultura cigana. Desde criança até a fase adulta, o homem pode namorar mulheres não ciganas, ir a festas, trabalhar e se relacionar com várias mulheres, mesmo após o casamento.A mulher cigana, no entanto, é vista como perigosa, capaz de desonrar o homem e a sua família, e, portanto, ela deve ser criada com bastante cuidado e não pode brincar com meninos ciganos a partir de uma determinada idade; não pode namorar antes de casar e, depois de casada, deve subordinar os seus interesses aos de seu marido.
O parentesco também estrutura essa organização social de forma fundamental. É comum que grupos ciganos organizem-se de acordo com a sua linhagem. Dessa forma, os territórios onde as comunidades ciganas se estabelecem são ocupados por famílias que possuem alguma relação parental. É também comum o casamento entre primos, pois ao nascer a menina calin é prometida a algum parente, de modo que fique assegurado um acordo, um meio de garantir que aquela menina não desonre a sua família através do controle familiar.
A organização da cultura cigana é patrilinear, o que significa dizer, assim como analisa Mendes (2000), que os filhos resultantes de um casamento fazem parte da linhagem do pai, assim como ao casarem as mulheres passam também a fazer parte da linhagem do marido, verificando-se uma estreita ligação entre a hierarquia de gênero e a relações de parentesco.
Relacionadas a essas características encontramos as crenças religiosas, o respeito aos mais velhos, a fidelidade aos acordos estabelecidos (que são geralmente entre famílias) e o controle sobre a virgindade feminina, todos convergindo para as questões de gênero e parentesco, que parecem ser, de fato, as características centrais da estrutura social da cultura cigana.
Verifica-se também quão forte e recorrente é o discurso endogrupal cigano. A sua cultura, nitidamente marcada no imaginário social por estereótipos negativos, exige esforço dos ciganos para que uma imagem satisfatória do grupo seja garantida. Conforme nos orienta a teoria da identidade social, é estratégico valorizar e ressaltar aspectos da sua cultura, para que os aspectos negativos sejam desqualificados e seja possível a elaboração de uma representação positiva do próprio grupo.
Acreditamos que compreender a cultura cigana em suas especificidades é fundamental para a desmistificação de crenças e estereótipos negativos a ela atribuídos, bem como para que, em beneficio desse povo, sejam criadas políticas públicas contextualizadas.
A preocupação do governo brasileiro com relação aos ciganos, manifestada apenas recentemente, e a escassez de conhecimento formal sobre a diversidade de grupos que compõem essa cultura denunciam séculos de marginalização dos ciganos em nosso país e a necessidade de serem mais bem conhecidos. Considerando ainda o histórico de exclusão e violência vivido por este povo, ancorado em um imaginário social carregado de preconceito e medo, é importante que as características, as normas, os valores e a dinâmica da etnia cigana sejam retratados pelos próprios ciganos.
Novos estudos seriam importantes, pois a tradição cigana é repleta de acontecimentos e aspectos que não são facilmente acessíveis. Assim, pesquisar mais especificamente aspectos como o processo de socialização dos ciganos, as questões de gênero, as relações matrimoniais, o acesso aos sistemas de ensino e saúde, a distribuição dos ciganos em território brasileiro e a constituição de grupos nômades e sedentários, entre outros, parece ser importante para melhor compreensão dessa cultura, bem como das singularidades dos diferentes grupos ciganos, pois mesmo partilhando aspectos comuns da cultura cigana, os grupos organizam-se de diferentes maneiras.
De uma exclusão itinerante desde a Índia, a diáspora cigana pelo mundo configurou-se em sucessivos êxodos que a caracterizaram como uma cultura caracteristicamente nômade (Alexandre, 2003; Teixeira, 2000). Os ciganos também tiveram uma história mística e romantizada, decorrente principalmente das práticas relacionadas à quiromancia, que contribuiu para atenuar a dura trajetória vivida pelos grupos nos mais diversos países (Ferrari, 2006; Fonseca, 1996; Vaz, 2005). Atualmente formam uma população que conta com aproximadamente doze milhões e meio de habitantesemtodo o mundo (Coutinho, 2002).
A discriminação contra os ciganos atravessou séculos e ainda se faz presente nos dias atuais. Os estereótipos de ladrões, vagabundos, a atribuição de características negativas, sentimentos de hostilidade e o medo são responsáveis por perseguições constantes registradas nos mais diferentes países. Ainda no ano de 2008, acompanhamos a destruição de seis acampamentos ciganos na cidade de Nápoles (sul da Itália), incendiados por civis, homens e mulheres italianos, enquanto as autoridades políticas providenciavam o despejo de 2500 ciganos, forçando uma retirada em massa chamada de “o êxodo pelo medo” (Giornale La Republica - Itália). Também na Romênia podem ser identificadas as marcas da xenofobia, com freqüentes registros de extermínio das comunidades ciganas, fruto de uma história de opressão datada de 400 anos de escravidão vividos pelos ciganos neste país (Fonseca, 1996).Aexclusão da população cigana das instituições escolares, as dificuldades do acesso à assistência à saúde, entre outras restrições aos direitos civis, também confirmam a marginalização à qual foram e continuam sendo lançados.
No Brasil a questão não é menos grave, considerando a invisibilidade social vivida pelos gitanos quanto aos seus direitos, o que é alimentado pela ausência de políticas pró-ciganas por parte do Governo Brasileiro. Na Europa, os anos de 2005 a 2015 foram escolhidos para se promover políticas a favor da comunidade cigana, sendo este período conhecido como “La Década para la Inclusión de los Gitanos“ (Dossier, 2005), o que pode ser também entendido como o cumprimento pelos países membros, das exigências estabelecidas pela União Européia. Os países deverão trabalhar as questões étnicas internamente, buscando soluções para os conflitos entre os cidadãos reconhecidamente nacionais e grupos originários de outras nações ou etnias.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - BRASIL 500 ANOS), os ciganos teriam chegado ao Brasil por volta de 1574, vindos de Portugal junto com imigrantes e pessoas banidas da Europa.OGoverno Brasileiro ainda não tem dados oficiais acerca das comunidades ciganas existentes em seu território, mas se estima que mais de meio milhão de ciganos estejam vivendo no Brasil, muitos deles sem registro de nascimento. No entanto, o descaso do Governo Brasileiro com esta população é evidenciado pelos séculos de esquecimento, visto que a questão cigana só começou a ser discutida oficialmente em 2002, através do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), que tem como primeira iniciativa o reconhecimento de sua especificidade cultural. A proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais dos ciganos, o apoio à realização de estudos e pesquisas sobre a história, cultura e tradições da comunidade cigana, o estímulo aos municípios nos quais estejam presentes assentamentos ciganos com vista ao estabelecimento de áreas de acampamento dotadas de infra-estrutura e a sensibilização dos próprios ciganos para a necessidade de realização do registro de nascimento dos filhos, assim como o apoio a medidas destinadas a garantir o direito ao registro de nascimento gratuito para as crianças ciganas, foram alguns encaminhamentos, fruto das discussões doPNDH(Brasil, 2002).
É fato que as intervenções através das políticas públicas voltadas para as comunidades ciganas brasileiras são ainda muito tímidas. Contudo, vencer o preconceito generalizado e já amalgamado nas práticas sociais dirigidas ao povo cigano consiste em uma tarefa de longo prazo, que demanda, além de políticas governamentais, o interesse da comunidade científica.
Etnia e identidade social: construindo a ciganidade em território calon
A perspectiva de análise sustentada na Teoria das Identidades Sociais mostra-se como um interessante caminho para a compreensão das dinâmicas identitárias implicadas no contexto do grupo cigano. Entende-se, neste estudo, a identidade social “como aquela parcela do autoconceito dum indivíduo que deriva do seu conhecimento da sua pertença a umgrupo (ou grupos) social, juntamente com o seu significado emocional e de valor associado àquela pertença” (Tajfel, 1983, p. 290). Dessa forma, possuímos tantas identidades quantos sejam os grupos sociais aos quais julgamos pertencer. É importante compreender que o entendimento de grupo, de acordo com esta perspectiva teórica, é a de grupo psicológico. Assim, não basta que os indivíduos compartilhem de espaços comuns e de relações face-a-face, o grupo é entendido como “uma entidade cognitiva com grande significado para o indivíduo num determinado momento” (Tajfel, 1983, p. 289).Opertencimento a umgrupo psicológico refere-se à pertença emocional, cognitiva e valorativa, que reflete a imagem que o indivíduo tem de si, tendendo sempre à busca de uma imagem socialmente positiva.
A constituição da identidade social é fruto de um processo relacional e cultural. Relacional na medida em que se refere à interação entre pessoas, a partir da definição de um “nós” e de um“outro”, de quem nos distinguimos ou a quem nos opomos. É cultural porque está relacionada ao universo social de inserção do sujeito, no qual há sentimentos e valores a respeito dos seus membros, códigos de comunicação e práticas de simbolismo identitário (Dubar, 1991). A dimensão cultural ainda se relaciona a processos de categorização social que, segundo Tajfel (1983, p. 291), “é o processo através do qual “se reúnem os objectos ou acontecimentos sociais em grupos, que são equivalentes no que diz respeito às acções, intenções e sistemas de crenças do indivíduo”(sp). A categorização social permite ao indivíduo orientar-se e definir o seu lugar na sociedade. Dinamizando o processo de categorização social, temos a comparação social que permite evidenciar o conflito entre o endogrupo (o “nós”) e o exogrupo (o “outro”), sendo este processo fundamental para a construção da identidade, pois é através deste confronto que o campo de identificação é traçado (Hogg & Abrams, 1999).
Nesta perspectiva, pertencer ao grupo étnico cigano exige de seus membros, como aponta Mendes (2000), lealdade ao grupo e aos valores estruturadores da organização social, sendo preciso também que o indivíduo assimile e incorpore aspectos que facilitem o seu contato com o “outro”. E este contato com o “outro” é contínuo, seja pela interação com vizinhos ou a partir das viagens que os ciganos realizam e que em alguns grupos são constantes.
A identidade do grupo étnico cigano é marcada por valores que são basilares em sua estrutura social e as relações de parentesco são fundamentais no ordenamento dessas relações. Mendes (2000) nos diz que “a pertença a um grupo parental é o fundamento de uma pessoa como membro de direito dentro da comunidade”. A autora ainda aponta outras características da cultura cigana que estruturam as relações estabelecidas entre os seus membros, como o respeito aos mais velhos, a importância atribuída à virgindade da mulher, o cumprimento dos acordos estabelecidos entre as famílias, aspectos fortemente relacionados à instituição familiar. Com igual importância, o gênero também estrutura as relações sociais e guia os homens e as mulheres de acordo com as tarefas que cada um realiza. Ao homem cigano, cabe o provimento material da família, enquanto a mulher cigana restringe as suas atividades aos serviços domésticos e aos cuidados com as crianças.
Como pudemos acompanhar, o desconhecimento relacionado ao universo simbólico dos grupos ciganos está umbilicalmente ligado a uma “identidade negativa” amplamente difundida no imaginário social (Alexandre, 2003; Fonseca, 1996; Silva & Silva, 2000). Discriminação, medo, rejeição e horror os mantiveram sempre apartados das relações sociais positivas com a sociedade não-cigana, apesar da apropriação de sua imagem mística pelos gadjés (não-ciganos). Seu povo, no entanto, permanece como eterno estrangeiro, apesar dos cinco séculos de vivência no território brasileiro. A verdade é que sabemos ainda muito pouco sobre como realmente vivem essas mulheres e esses homens que, além de ciganos, são também cidadãos brasileiros.
Cultura cigana: um universo a ser conhecido
A revisão da literatura evidenciou que pouco se tem estudado acerca da população cigana e suas formas de organização. No campo da psicologia a situação não é diferente. Neste sentido, realizar um estudo que procure contemplar a questão cigana, sobretudo no campo das identidades sociais, mostra-se relevante tanto pela contribuição científica como pela disponibilização de subsídios à construção de políticas públicas mais coerentes com a realidade vivida por esta população. É interessante ressaltar que, muitas vezes, a visão estereotipada sobre esta população pode mediar práticas de exclusão no campo das políticas públicas, seja por reforçar a representação negativa associada aos ciganos ou mesmo pelo total “esquecimento” de sua existência. Sobre essa questão, Souza (2004) nos alerta para o perigo da construção das categorias negativas e sua interferência nas políticas públicas, pois ao “[...] considerar que eu e meu grupo não somos afetados, nem somos responsáveis pelo problema, não há compromisso com a solução, e os grupos marginais internos e os estrangeiros são novamente penalizados” (p. 65-66).
A recente preocupação do Governo Brasileiro com a elaboração de políticas de identidade dirigidas às comunidades ciganas existentes em seu território denuncia a falta de conhecimento científico acerca dessa etnia, convidando a comunidade acadêmica a desenvolver pesquisas que orientem as políticas públicas voltadas a esta população.
Nesse sentido, o presente estudo - de caráter descritivo - propõe como objetivo geral conhecer como homens e mulheres, ciganos e ciganas constroem sua identidade étnica a partir das relações endo e exogrupais estabelecidas pela comunidade calon. De forma mais específica, objetivamos identificar, descrever e analisar as significações do que é ser cigano para homens e mulheres adultos de uma comunidade calon; conhecer a dinâmica grupal interna à comunidade cigana, além de investigar as concepções dos participantes acerca das relações entre os universos culturais cigano e não-cigano.
Espera-se que os resultados da pesquisa possam gerar subsídios para a reflexão sobre as políticas públicas produzidas para os homens e mulheres ciganos e também provoquem maior interesse da comunidade científica na investigação dessa categoria social ainda tão pouco conhecida.
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS
Tendo em vista o objetivo de investigação dos processos identitários na dinâmica da comunidade calon, participaram da pesquisa 07 homens ciganos e 10 mulheres ciganas, pertencentes à etnia calon de uma comunidade cigana brasileira. No grupo de mulheres, 04 são chamadas “moradeiras” (oriundas do povo que mora em casas) ou Gadjin (do romanês “mulher não cigana”), que correspondem às mulheres que se casaram com homens ciganos e assimilaram as características da cultura cigana, reconhecendo-se como ciganas. A coleta dos dados foi realizada na própria comunidade, individualmente, segundo a disponibilidade de cadaumdos participantes.
Assim como outros grupos ciganos do Estado, essa comunidade apresenta a característica de se situar às margens do asfalto, nos arredores da cidade. O grupo investigado já se encontra em processo de fixação territorial e as viagens ciganas são agora vividas não por um processo de exclusão pelos grupos não ciganos, mas como uma escolha da própria comunidade, em função de seus interesses culturais.
Foram realizadas entrevistas individuais com roteiro semi-estruturado, contendo questões sobre o cotidiano das pessoas do grupo, conjunto de normas para homens e mulheres, relação entre ciganos e não ciganos e sobre o que seria a ciganidade ou ser cigano. Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para processamento do corpus de dados coletado.
Procedeu-se a análise dos dados através do software ALCESTE (Analyse Lexicale par Contexte d'um Ensemble de Segments de Texte) - (Reinert, 1990). Este software organiza o banco de dados coletados (as entrevistas) a partir de duas unidades básicas de análise - a Unidade de Contexto Inicial (UCI), sendo que cada entrevista corresponde a uma UCI e a Unidade de Contexto Elementar (UCE), que são fragmentos do corpus selecionados pelo programa. O ALCESTE realiza uma Classificação Hierárquica Descendente gerando um dendrograma, uma disposição dos resultados através do posicionamento de classes em forma de uma árvore. Esta estruturação dos dados permite a visualização da análise estatística realizada da seguinte forma: apresentação das palavras representativas de cada classe, a força de ligação entre as classes, a porcentagem de cada classe no corpus analisado e a quantidade de UCEs pertencente a cada categoria (Bonomo, Trindade, Souza&Coutinho, 2008).
Neste artigo serão apresentados os resultados organizados pelo software Alceste na Classificação Hierárquica Descendente. Para o tratamento dos dados, foram organizados dois corpora: um corpus com as entrevistas feitas com os homens e outro com as entrevistas realizadas com as mulheres. Estes foram submetidos ao software ALCESTE sendo criados dois dendrogamas, um para cada grupo analisado. Foi utilizado ainda, como recurso complementar, a Análise de Conteúdo Temática, como proposta por Bardin (2002). Esta análise permite identificar as unidades de significado mais gerais, relacionadas a temas considerados nucleares ou de grande relevância para o discurso construído sobreumdeterminado objeto.
Da exclusão à cultura de liberdade
Os resultados serão apresentados a partir dos dendrogamas gerados, um referente ao grupo dos homens ciganos e o outro relativo ao grupo das mulheres ciganas. Das 07 entrevistas referentes ao corpus dos homens ciganos, o software analisou 77% do conteúdo, selecionando 230 UCEs. Das 10 entrevistas realizadas com as mulheres ciganas, o aproveitamento do corpus foi de 71%, com seleção de 207 UCEs. Avaliando os dois corpora analisados, pode-se considerar que houveumbom aproveitamento estatístico dos bancos processados pelo programa ALCESTE. Nos dendrogramas que serão apresentados, cada classe é composta por 10 palavras que foram selecionadas, em ordem decrescente, a partir do valor do qui-quadrado de cada palavra.
Grupo dos homens ciganos
O software permitiu uma análise do material a partir de dois eixos. No primeiro eixo temos duas classes que compõem o discurso endogrupal. No segundo eixo, apenas uma classe aparece e esta diz respeito ao contato do grupo cigano com o “outro”, que pode ser tanto um grupo cigano quanto um grupo não-cigano. Segue abaixo a figura que apresenta esta configuração.

No primeiro eixo observa-se uma ligação entre as classes 1 e 3 (R = 0,33). A classe 1 refere-se ao discurso dos homens ciganos falando de algumas das tradições ciganas, as festas e o estilo da moradia. As festas, para os ciganos, são uma forma de destacar socialmente aspectos do grupo que são positivos. Dessa maneira, conseguem transmitir a imagem de que os ciganos são festivos e alegres, assegurando uma auto-imagem positiva do grupo, assim como Tajfel (1983) sugere ao afirmar que os grupos e os indivíduos esforçam-se para assegurar uma auto-imagem satisfatória.
A crença dos ciganos também aparece nessa classe, ligada aos festejos do dia dos santos dos quais são devotos. Essa crença revela um sincretismo existente na cultura cigana, que assimila, por exemplo, traços do catolicismo, do protestantismo e do candomblé. Mendes (2000) informa que o pertencimento ao grupo étnico cigano implica assimilação e incorporação de elementos que facilitem o contato com o “outro”; assim, o sincretismo religioso é uma forma de proporcionar um contato mais harmônico do grupo cigano com os demais grupos ao seu redor, os grupos não-ciganos.
“Casamento, batizado, festa de algum santo... às vez, quando é casamento, mata vaca, contrata uns cantô pra cantar, dança forró, dança à vontade”; “Casamento cigano eu acho muito diferente desse pessoal morador, porque nós faz festa quinze dias antes, vai tomando cerveja direto, quinze dias, trinta dias”; “Cosme e São Damião, Aparecida e Bom Jesus da Lapa, Santa Luzia, um monte, nós tem muita devoção com eles” (Classe 1).A forma de moradia - viver em barracas -, é enfatizada pelos ciganos como um estilo de vida mais livre, mais tranqüilo, ao contrário das pessoas que moram em casas e apartamentos, pois, para eles, esses lugares tiram a liberdade dos moradores. A falta de privacidade, referente ao fácil acesso de todos ao interior da barraca, que para os não ciganos poderia ser negativa, é vista como uma forma de liberdade, o acesso ao “ar puro” e um maior contato entre os moradores. Há dessa forma uma percepção dos atributos do grupo de modo que as suas características não sejam vistas de forma negativa (Tajfel, 1983). Ainda é fundamental observar que a barraca permite uma vida itinerante de mais fácil contato, ao contrário de casas e apartamentos. Algumas UCEs, representativas dessa classe, expressam a importância do morar nas barracas.
“Pra falar a verdade, se fosse pra eu morar numa casa ou morar numa barraca, eu prefiro a barraca”; “Eu mesmo um dia dormi numa casa, é um calorão danado e aqui não, corre muita ventilação, aqui eu comprei mesmo pra não deixar construir casa, eu montei a barraca aqui”; “Mora diferente, mais sossegado” (Classe 1).A classe 3 diz respeito à “Lei Cigana”, o que homens ciganos e mulheres ciganas podem ou não fazer. Verifica-se que o gênero é uma questão fundamental na organização da estrutura social da cultura cigana. O homem cigano tem a função de trabalhar para garantir o sustento da sua família, o trabalho em geral restringe-se ao comércio - compra e venda de carros, cavalos, ouro e empréstimo de dinheiro a juros. A mulher tem a função de realizar os serviços domésticos e cuidar das crianças (Ventura, 2004). Na comunidade cigana visitada as mulheres não realizam a leitura de mão, uma prática mística atribuída à cultura cigana. Há uma hierarquização de gênero, na qual o homem detém o poder sobre a mulher. Os homens têm maior liberdade, podem procurar mulheres fora da comunidade, podem ir a festas sozinhos, podem namorar mulheres nãociganas antes e depois do casamento. A mulher cigana não pode trabalhar para além da sua barraca, não pode sair sozinha para festas e, como eles próprios enfatizam, não pode trair o homem. A mulher cigana aparece dessa forma, como uma parceira submissa ao seu marido e desprovida de autoridade frente a ele (Ventura, 2004). No grupo cigano a desonra do homem pela mulher é tida como uma grande desgraça que deverá ser reparada com a morte da mulher infiel. A família de origem da mulher cigana é então responsabilizada, cabendo a ela honrar a sua linhagem com a morte da cigana. De acordo com os homens, esta é uma regra clara que compõe a chamada Lei Cigana, lei considerada fundamental para o grupo e conhecida por todos.
“A lei cigana tem bastante regras, tem muita coisa que mulher não pode fazer, bastante coisa”; “A liberdade do homem é um privilégio que o homem sempre tem, a mulher cigana não pode ter esse privilégio”; “A lei cigana é que a mulher não pode trair, ela não pode ficar saindo pra festa, não pode andar bebendo direto”; “Tem muito cigano que acontece de matar, tem uns que tem essa coragem e tem uns que não, porque o cigano é o seguinte, isso é a regra dela, ela sabe qual é a regra da tradição cigana” (Classe 3).No outro eixo temos a classe 2, que expressa o conteúdo relacionado ás ocasiões em que há contato com outros grupos, ciganos ou não. Nesta categoria estão agregados os conteúdos que remetem à época em que os ciganos realizavam as viagens com suas tropas de burro, fato este que não acontece mais na comunidade visitada. Os ciganos que vivenciaram aquele momento falam das situações pelas quais passavam, como a procura por locais para montar os acampamentos e a busca por alimentos. A prática de roubar galinha é descrita como um fato que faz parte do passado e podemos associar essa questão à falta de acesso aos alimentos, devido às constantes viagens e às dificuldades financeiras que os ciganos daquela época vivenciavam. As viagens também possibilitavam o contato com outros grupos ciganos, de forma que os líderes ciganos fossem conhecidos em diversos lugares do país. Verifica-se uma preocupação em transmitir uma imagem positiva do endogrupo (Tajfel, 1983), que vai além do contato com aqueles da mesma cultura. Há dessa forma uma preocupação com o “outro”, cigano ou não, especialmente por serem tempos difíceis e que demandavam solidariedade entre os grupos.
“Viajava estrada a fora e o que acontecia, todo mundo montado em suas tropas, seu animal”; “Ajeitava certinho, já tinha as trempe dessas de ferro, pegava a trempe e colocava no chão, botava a panela, ajeitava e fazia o almoço pra gente”; “Roubava galinha, mas antigamente, eu não cheguei nessa época, nem eu e nem ninguém aqui”; “Vai vim um grupo que é de outra cidade”; “Às vezes, a comunidade precisa de alguma coisa, pode procurar a gente que a gente ajuda”; “Eu sou conhecido no Brasil, cigano que não me conhece aqui dentro, de nomemeconhece” (Classe 2).É fundamental compreender que o nomadismo nos grupos ciganos reflete um processo constante de exclusão social, não sendo uma prática natural e sim uma forma de enfrentar a discriminação. A história dos ciganos é marcada, desde a sua dispersão pelo mundo a partir do século XI, por perseguições e preconceitos (Vaz, 2005). No entanto, essa prática é percebida de outra maneira pelos ciganos, que a significam como uma forma de liberdade, mesmo diante das dificuldades que eram vivenciadas. Têm-se, assim, valores associados a essa prática que possibilitam uma ressignificação dos fatos vivenciados (Tajfel, 1983): a exclusão sofrida é transformadaemuma cultura de liberdade.
A partir da análise dos dados coletados com os homens ciganos observa-se que o discurso mais forte é o que valoriza as normas, as características e as relações endogrupais. A cultura cigana foi e é alvo de constantes injustiças e preconceitos, sendo afetada constantemente por uma representação negativa, aliada a sentimentos de hostilidade e repulsa por parte da população não cigana. A força do discurso endogrupal pode ser entendida como uma estratégia para reafirmar o que os ciganos têm de positivo, com o intuito de evidenciar para o grupo não cigano as características de sua etnia que se contrapõem às representações clássicas dessa população como portadora de uma cultura inferior e perigosa. Afinal, no imaginário social sobre os ciganos não é raro encontrar histórias e crendices carregadas de elementos negativos, fortalecidos por alguns fatos ruins ocorridos nas regiões que eles habitam.
Grupo das mulheres ciganas
O dendrograma relativo aos dados coletados com as mulheres ciganas foi também dividido em dois eixos. No primeiro, temos as classes 1 e 3, fortemente ligadas (R = 0,73), que tratam da misoginia. O outro eixo é estruturado a partir de três classes que dizem respeito à mulher no grupo cigano. Neste eixo, as classes 4 e 5 estão fortemente ligadas (R = 0,5) e a classe 2 liga-se às classes 4 e 5 com menos força (R = 0,27). A figura 2, apresentada abaixo, refere-se ao dendrograma das mulheres ciganas.

A honra masculina na cultura cigana é considerada fundamental e o homem pode ser desonrado tanto por sua esposa, caso ela o traia, quanto pelas filhas, caso percam a virgindade antes do casamento ou se surgirem boatos a respeito de sua integridade moral. Mendes (2000) enfatiza que a virgindade feminina é uma questão muito importante em uma sociedade patrilinear que atribui grande valor à instituição familiar. Essa situação faz com que as mulheres ciganas despertem medo nos homens, visto que têm o poder de controlar a honra masculina, fato que explica algumas das práticas adotadas nessa cultura.
Na classe 1 o discurso das mulheres ciganas refere-se à prática de dar as meninas calins logo após o parto. As mulheres dizem que os homens ciganos sentem medo de criá-las devido à ameaça que estas meninas representam para eles e suas famílias. As calins provocam nos homens o pior dos medos que um cigano pode sentir: o medo da desonra, que gera uma verdadeira misoginia, ou seja, o medo ou a aversão a tudo o que é ligado ao feminino (Delumeau, 1989; Dottin-Orsini, 1996). As ciganas devem ser criadas, então, com bastante atenção e esse papel recai sobre a mãe. As meninas ciganas não podem brincar com meninos, aproximadamente a partir dos 8 anos de idade, e também não podem namorar antes de casar, para que a virgindade seja assegurada. Mendes (2000) aponta que para os ciganos, a castidade da mulher é o que garante seu valor e o que a torna uma mulher de respeito, pois sendo virgem, a cerimônia do casamento cigano será festejada em toda sua plenitude. Ao provar a sua virgindade a mulher cigana garante a honra de sua família e, consequentemente, de toda a etnia cigana.
“É muito difícil criar uma menina mulher aqui, é muito mais difícil. E o homem pode sair, pode brincar, pode xingar, que não vai ter problema nenhum”; “O cigano pode sair e namorar e a cigana não pode”; “Os meninos homem, quer dizer, não traz muito problema pra família, a mulher cigana a gente cria, tem que ser dentro da barraca, não pode ta falseando a família”; “As meninas mulher vai criar problema pra família, a gente já previne e dá” (Classe 1).Fortemente ligada à classe 1, a classe 3 refere-se à morte da mulher cigana, física ou simbólica quando, por alguma razão, desonra seu esposo ou a sua família. Caso ocorra traição, ao homem e à família da cigana é dado o direito de matar a mulher, visto que só com a sua morte o marido reabilita sua honra e a família recupera o seu prestígio na sociedade cigana. No entanto, em alguns casos, essa morte é simbólica, ou seja, há um esquecimento da mulher que desrespeitou a regra e ela é expulsa do grupo. A partir da expulsão da cigana que não cumpriu a lei, ela é apagada da memória do grupo, não tendo mais o seu nome pronunciado entre os membros da comunidade, como se jamais tivesse vivido entre os homens e mulheres daquele território cigano.
“Ela não entra mais no bando, tira ela do bando. A que errar sai do bando. O homem não tem nada a ver com isso. O homem já trai as mulher, não tem problema. Os ciganos homem trai as mulher e não suja o nome da família não. Agora, já a mulher suja” (Classe 1).Esse esquecimento e expulsão são as formas utilizadas para que a estrutura do grupo não seja afetada, afinal, as relações de gênero e a constituição familiar são basilares na cultura cigana (Mendes, 2000). A estrutura patrilinear da cultura cigana também determina que a mulher acompanhe o seu esposo. No entanto, a mulher cigana nunca perde o vínculo com a sua família de origem que, quando necessário, a acolherá ou tomará providências em virtude de algum acontecimento, como em casos de traição da mulher. As UCEs destacadas a seguir explicitam melhor esta questão.
“O meu pai não quis matar ela e deixou mais os morador, ela não entra mais no bando”; “Mulher de cigano não pode trair os marido, se trair eles mata”; “No meio de cigano, quando suja eles manda embora também”; “Se eu casar esse menino aí, ele tem que ficar mais eu; se eu casar uma menina mulher minha, ela tem que ir embora pro povo do marido dela” (Classe 3).No segundo eixo (a mulher no grupo cigano), a classe 2 diz respeito à entrada de uma “moradeira” na comunidade cigana, ou seja, refere-se ao momento em que uma mulher não-cigana casa com um cigano e passa a partilhar os elementos da cultura, assimilando-os para orientar sua vida, inclusive no uso língua cigana, o romani, e no modo de se vestir. Nestes casos pode-se dizer que há mobilidade social, visto que há o abandono de um grupo psicológico e o reconhecimento de outro grupo como o seu (Tajfel, 1980). No novo grupo, características são reelaboradas psicologicamente visando transformar características negativas em positivas. São possíveis duas situações: a primeira é a reavaliação das dimensões negativas que já existem e a segunda é a criação de novas dimensões (Tajfel, 1982). O discurso das moradeiras expressa a segurança de viver numa comunidade cigana e algumas admitem que a vida que levam atualmente é importante para sua realização pessoal. A rígida hierarquização de gênero é reelaborada sob uma lógica que a torna positiva.
“Engraçado que eu sinto mais segura aqui morando numa barraca do que se eu tivesse morando numa casa. Gostei de aprender foi a língua”; “Eu gosto de viver aqui, eu sempre quis isso pra mim”; “É claro que pra mim teve algumas mudanças, eu vestia bermuda curta, vestia calça, eu vestia outros tipos de roupa que eu não posso vestir mais”; “No início foi assim, difícil, porque eu era moradora, como eles falam aqui, gadjin, e eu tinha todos os meus costumes que era diferente, morava numa casa” (Classe 2).O modo de vida cigano, vivenciado cotidianamente na comunidade, é apresentado na classe 4. A assimilação de características da cultura é descrita como fruto de um aprendizado contínuo, em virtude do contato endogrupal. Verifica-se que o discurso das entrevistadas enfatiza uma aproximação entre o cigano e o não cigano, informando que o seu cotidiano é semelhante, o que nos remete ao estudo realizado por Vaz (2005). Em alguns momentos da pesquisa, o autor verificou que os ciganos definiamse como semelhantes aos moradores não ciganos da região. No entanto, algumas diferenciações foram identificadas com relação ao trabalho, ao uso da língua cigana e à percepção do futuro.
Magano e Silva (2000) discutem que os ciganos não concebem o trabalho como na sociedade não cigana, que é voltada para a produção e consumo de bens, segundo um arranjo cotidiano compromissado com a circulação de capital; os ciganos, pelo contrário, procuram um estilo de vida mais livre e independente que lhes possibilite ser donos do seu destino, conforme sua cultura os orienta e ensina a viver. Esta é uma questão interessante a ser tratada, já que a imprevisibilidade é inerente a uma vida itinerante, nômade. A arrumação da barraca é diferenciada, sendo já preparada para a possibilidade de ter que viajar. Na cultura cigana vive-se o presente de forma intensa, o futuro é percebido como “o hoje” e o grupo se esforça para esquecer o passado. Esta parece ser a estratégia escolhida para obscurecer um passado cheio de dificuldades, perseguições e discriminações, enfim, uma forma de não se falar de ocorrências negativas que afetem a percepção do grupo como um grupo alegre, livre, festivo e solidário. Dessa forma, a cultura cigana caracteriza-se por ser uma cultura hedonista (Vaz, 2005), que sempre busca um prazer momentâneo, vivendo cada dia, sem um planejamento para o futuro.
A dimensão mística da cultura cigana, com a prática da leitura de mãos, é também citada nessa categoria, no entanto, ela não é descrita como uma prática existente na comunidade e sim como uma característica da cultura cigana.
“É normal, o dia-a-dia de cigano, é como outro qualquer, de qualquer pessoa, porém um pouco diferente porque o homem brasileiro tem, digamos que ele tem funções e o cigano não tem”; “Esse garoto tem essa idade, então como ele vê os outros vivendo ele vai vivendo, uma coisa que ele aprende é a língua cigana”; “O futuro é isso, o futuro aqui a gente vive a cada dia”; “É igual vocês mesmo, só muda o nome que é cigano, mas é igual brasileiro mesmo”; “A leitura de mãos eu não aprendi” (Classe 4).A história do grupo é explicitada na classe 5 a partir das viagens ciganas. Algumas entrevistadas lembram com saudosismo do tempo em que o seu grupo era nômade; outras afirmam que eraumtempo difícil e cansativo.No entanto, há um consenso ao relatarem que a vida atualmente é mais tranqüila e com menos dificuldades. As viagens possibilitavam um contato constante com grupos não ciganos e estes contatos são descritos como amistosos em alguns momentos, quando os ciganos eram bem recebidos, e comoumcontato conflituoso, quando a recepção não era tão boa.
“Ficava um dia, dois e ia viajando de novo. Era bom, eu gostava”; “Uns era bem recebidos, outros não”; “É da gente receber bem pra ser recebido bem”; “Chegava, tinha que procurar água, viajava de animal, tinha que procurar água, às vez, nem encontrava”; “Chegava ali morto de fome, era ruim aquela vida, não tinha sossego de parar num canto, não era muito boa não”; “A gente mora no terreno da gente mesmo, é uma coisa boa, mas pra eles não é, eles era mais feliz quando viajava de burro” (Classe 5).Um aspecto fundamental relacionado ao nomadismo cigano é a procura por mulheres não ciganas durante as viagens. O contato com diversos grupos possibilita aos homens ciganos o contato com mulheres que poderiam vir a ser suas esposas. Como se constatou que o abandono das meninas calins é uma prática deste grupo, o desequilíbrio numérico existente entre mulheres e homens ciganos faz com que eles procurem mulheres fora do seu grupo e o nomadismo favorecia os contatos e os casamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos dados coletados permitiu-nos identificar dois importantes elementos, que parecem ser fundamentais na estruturação das relações estabelecidas na cultura cigana - a rígida hierarquia de gênero e a relação parental.
Dados semelhantes foram encontrados nos estudos realizados por Magano e Silva (2000), Mendes (2000) e Fonseca (1996) acerca da organização endogrupal centralizada na instituição familiar, sob a estratégia dos casamentos endogâmicos, bem como a relação hierárquica estreitamente marcada entre homens e mulheres, sobretudo representado no ritual da prova da virgindade feminina e no rigor quanto à fidelidade da mulher (Mendes, 2000). Contudo, não encontramos na revisão de literatura referência à prática do abandono de meninas calins logo após o parto, prática esta que irá refletir numa busca de mulheres não ciganas durante as viagens e, consequentemente, a entrada de membros do grupo não cigano na comunidade calon.
Embora os diferentes grupos ciganos bebam de uma fonte cultural comum e cultivem um sistema nuclear centrado em um conjunto de crenças, normas e valores que os orientam como membros de uma mesma etnia, é possível identificar especificidades das práticas sociais dos diferentes grupos para estrategicamente se manterem coerentes com este sistema simbólico compartilhado. Podemos pensar que a própria prática de abandono das meninas ciganas é uma forma de garantir e preservar o que é central para o grupo cigano: honrando o homem, toda a etnia é honrada, pois somente ele tem o poder de transmitir aos seus filhos a ciganidade (Fonseca, 1996; Bonomo, Souza &Trindade, 2007).
A Lei Cigana, apreendida a partir do relato dos entrevistados, estabelece o que “pode” e o que “não pode” ser feito por mulheres e homens ciganos e reflete a hierarquia de gênero constituinte da cultura cigana. Desde criança até a fase adulta, o homem pode namorar mulheres não ciganas, ir a festas, trabalhar e se relacionar com várias mulheres, mesmo após o casamento.A mulher cigana, no entanto, é vista como perigosa, capaz de desonrar o homem e a sua família, e, portanto, ela deve ser criada com bastante cuidado e não pode brincar com meninos ciganos a partir de uma determinada idade; não pode namorar antes de casar e, depois de casada, deve subordinar os seus interesses aos de seu marido.
O parentesco também estrutura essa organização social de forma fundamental. É comum que grupos ciganos organizem-se de acordo com a sua linhagem. Dessa forma, os territórios onde as comunidades ciganas se estabelecem são ocupados por famílias que possuem alguma relação parental. É também comum o casamento entre primos, pois ao nascer a menina calin é prometida a algum parente, de modo que fique assegurado um acordo, um meio de garantir que aquela menina não desonre a sua família através do controle familiar.
A organização da cultura cigana é patrilinear, o que significa dizer, assim como analisa Mendes (2000), que os filhos resultantes de um casamento fazem parte da linhagem do pai, assim como ao casarem as mulheres passam também a fazer parte da linhagem do marido, verificando-se uma estreita ligação entre a hierarquia de gênero e a relações de parentesco.
Relacionadas a essas características encontramos as crenças religiosas, o respeito aos mais velhos, a fidelidade aos acordos estabelecidos (que são geralmente entre famílias) e o controle sobre a virgindade feminina, todos convergindo para as questões de gênero e parentesco, que parecem ser, de fato, as características centrais da estrutura social da cultura cigana.
Verifica-se também quão forte e recorrente é o discurso endogrupal cigano. A sua cultura, nitidamente marcada no imaginário social por estereótipos negativos, exige esforço dos ciganos para que uma imagem satisfatória do grupo seja garantida. Conforme nos orienta a teoria da identidade social, é estratégico valorizar e ressaltar aspectos da sua cultura, para que os aspectos negativos sejam desqualificados e seja possível a elaboração de uma representação positiva do próprio grupo.
Acreditamos que compreender a cultura cigana em suas especificidades é fundamental para a desmistificação de crenças e estereótipos negativos a ela atribuídos, bem como para que, em beneficio desse povo, sejam criadas políticas públicas contextualizadas.
A preocupação do governo brasileiro com relação aos ciganos, manifestada apenas recentemente, e a escassez de conhecimento formal sobre a diversidade de grupos que compõem essa cultura denunciam séculos de marginalização dos ciganos em nosso país e a necessidade de serem mais bem conhecidos. Considerando ainda o histórico de exclusão e violência vivido por este povo, ancorado em um imaginário social carregado de preconceito e medo, é importante que as características, as normas, os valores e a dinâmica da etnia cigana sejam retratados pelos próprios ciganos.
Novos estudos seriam importantes, pois a tradição cigana é repleta de acontecimentos e aspectos que não são facilmente acessíveis. Assim, pesquisar mais especificamente aspectos como o processo de socialização dos ciganos, as questões de gênero, as relações matrimoniais, o acesso aos sistemas de ensino e saúde, a distribuição dos ciganos em território brasileiro e a constituição de grupos nômades e sedentários, entre outros, parece ser importante para melhor compreensão dessa cultura, bem como das singularidades dos diferentes grupos ciganos, pois mesmo partilhando aspectos comuns da cultura cigana, os grupos organizam-se de diferentes maneiras.
quarta-feira, 14 de março de 2012
CIGANA ESMERALDA DE LA LUNA
Houve um tempo em que eu não tinha nada… havia perdido minha terra, minha família e
todos aqueles que eu amava, eu era nada, era ninguém.
Não tinha para onde ir e tão pouco para onde voltar.
Neste momento em que eu estava ferida e só a morte me esperava, eis que surge um anjo
estranhamente trajado… camisa colorida, brincos e lenço na cabeça…
Ele me segura em seus braços e me leva para um abrigo seguro.
Uma pequena cabana no meio da floresta.
Lá há uma velha senhora, ao qual todos devotam grande respeito, fica responsável pelo
meu tratamento.
Uma senhora muito sábia iniciada nas artes da magia e da cura com as ervas.
Embora o tempo não parecesse correr eu fiquei muitos meses ali, recuperando-me das
batalhas sofridas anteriormente.
Aos poucos fui conhecendo todos que viviam acampados naquele local.
Moças com suas saias rodadas, suas jóias, sempre muito alegres e dançantes.
Os homens sempre atentos, protegendo todos ali.
Era uma família e eu fazia parte dela.
Sim, eu tinha uma família novamente… uma família itinerante…
Da minha antiga vida restou apenas minha espada, da qual eu nunca me separava,
e também algumas cicatrizes, umas na carne, outras na alma.
Aprendi seus costumes, sua magia, sua história e seus mistérios…
Recebi um novo nome… Passei a me chamar Esmeralda de La Luna, Esmeralda por causa
da cor dos meus olhos e Luna para jamais esquecer de onde vim.
Nunca devemos dar as costas a nossa essência, foi o que me disseram.
E chegou o tempo de pegar a estrada, seguir em frente e percorrer novos horizontes…
Meus caminhos nem sempre seriam de flores, mas agora eu não estaria sozinha.
Eu tinha uma família, uma família cigana, e eu também era cigana!!!
SENTINDO A ENERGIA CIGANA
O povo cigano é conhecido por sua alegria, por suas lutas e sacrifícios.
Um povo itinerante, hora aqui, hora ali, mas sempre aproveitando a vida
e tirando lições de suas angústias.
Façamos uma mentalização para entrar em sintonia com a energia deste povo…
Acenda um incenso de sua preferência, uma vela laranja (que simboliza a corrente oriental),
e pare por alguns minutos…
Respire fundo…
Imagine-se caminhando em um campo aberto, ouça a música que vem de longe
e vá chegando mais perto dessa música…
Deixe-se levar por este encantamento…
Veja que logo adiante há uma acampamento, carroças e uma fogueira ao centro…
Os ciganos o convidam a se juntar à festa e você sentindo-se muito honrado
aceita o convite e dança, dança, dança…
Você faz seus pedidos enquanto dança ao redor da fogueira e sabe que
a corrente dos ciganos lhe ajudará a realiza-los.
Seu coração se enche de alegria e paz…
É hora de voltar…
Você agradece, se despede e toma o caminho de volta, se sentindo muito feliz
pois sabe que de agora em diante a corrente cigana estará sempre com você!
domingo, 19 de fevereiro de 2012
CIGANO BORIS
“Já fui novo, hoje sou velho;
já fui vencido e já venci;
já caí e me levantei;
já tive fome e me alimentei;
já chorei e já sofri;
já fui triste, hoje sou alegre;
já tive corpo, hoje sou um espírito;
já tive mulher, e no fim da vida vivi só.
Hoje tenho todos vocês em um só ideal.
Venho para ajudar, para lutar e retirar
barreiras dos caminhos para vocês
passarem. Sou um espírito cigano igual a
outro qualquer, não sou melhor nem pior;
sou o cigano Boris que acabou de chegar.”
Salve o povo cigano
Boris é um cigano de cabelos grisalhos, com bigode e barba cerrada, moreno de olhos verdes. Usa calça azul-marinho e blusa branca. Não dispensa seu colete de veludo vermelho e seu chapéu branco. Quando fez a passagem para o plano astral, não era mais um jovem, mas um ancião. Ele era o conselheiro do seu grupo; foi um Kaku (mago, sábio), que acabou seus dias só neste planeta
CIGANO PABLO
Vivi nesta terra a muito e muito tempo atrás.
Quando vivo, chefiava uma tribo de ciganos que na maior parte do tempo acampava pelas terras de Andaluza, como em minha tribo as tradições eram passadas de geração para geração e de pai para filho, herdei a chefia da tribo ainda jovem de meu pai.
Aprendi tudo que era necessário aprender com os antigos da tribo, que para nós ciganos, são as pessoas mais sábias sobre a face da terra.
Durante o tempo em que chefiei a tribo sempre recorri a eles em busca de sabedoria para solucionar problemas ou quando tinha dúvidas ou quando necessitava tomar qualquer decisão que fosse de maior responsabilidade, nunca gostei de tomar qualquer decisão, sem antes consultar a sabedoria dos antigos.
Quando nasci, fui prometido como todos os ciganos a filha de um dos ciganos da tribo, crescemos juntos e aprendemos a gostar um do outro e assim foi até atingirmos a idade necessária para contrairmos o matrimonio, enquanto isso aprendi com os antigos, todos os truques e todas as magias ciganas.
Tornei-me um grande conhecedor de magias e adquiri um pouco da sabedoria dos antigos. Chegada à época das núpcias, casamo-nos aos quinze anos de idade, aprendemos juntos como liderar a nossa tribo. Tivemos três filhos machos. Segundo a tradição todos foram prometidos e assim seguimos nossos caminhos, com muita alegria e muita fartura. Trabalhávamos arduamente cada um em seu oficio em prol da coletividade.
Com os filhos crescendo e a nossa felicidade a largos passos, começaram os problemas, o meu primogênito, ao qual cabia substitui-me na liderança da tribo, resolveu rebelar-se contra a nossa tradição, não querendo aceitar o acordo de núpcias feito entre nossa família e a de sua prometida, assim causando um conflito na tribo, como se não bastasse, resolveu envolver-se com outras moças da tribo, causando o desagrado de todos os homens que já se estavam como ele prometidos a essas moças, até que seus atos o levaram a um conflito direto com um dos jovens da aldeia, e pelas leis da tribo, levaram a um duelo pela honra.
Eu já sabia de antemão como terminaria esse duelo, pois, com a sua revolta, o meu filho não quis aprender comigo a arte de duelar, com isso encontrava-se despreparado para o duelo. Vendo-me com grande dor no coração por saber-me impotente em relação ao fato de também se fazer cumprir a lei da tribo (essa lei nunca havia sido utilizada na tribo).
Tornei-me introspectivo e voltei-me para os antigos em busca de consolo. Sabendo os antigos pelo grande amor que nutria por meu primogênito, mostraram-me que havia uma maneira não muito ortodoxa de poupar o meu filho da morte certa, porem, sendo um bom lutador e tendo o conhecimento da magia do duelo, sabia também que não deveria vencer o jovem. Assumi o lugar de meu filho (deveria morrer em seu lugar).
E assim fiz, desencarnei nas mãos de um jovem cigano irado com o fato de meu filho ter desonrado a sua prometida.
Deixei em desgraça uma jovem mulher e três filhos rezando a Santa Sara para que cuidasse de todos. Durante o tempo que me foi permitido velar por minha tribo e minha família, fiquei ao lado de todos tentando colocar algum juízo na cabeça de meu filho, esperando que depois do fato acontecido ele resolvesse aceitar o seu destino, mesmo depois de tudo o que fiz, esse meu filho ainda se rebelou com o que fiz, continuou em sua busca de algo que nem ele sabia o que era.
Nessa sua busca desse algo, foi levando em seus passos o meu segundo filho, que sem o pai, estava completamente envolvido pelo irmão mais velho, tentei de todas as maneiras que pude e me foi permitido, influenciar ao primogênito o sentido de dever, não conseguindo meu intento e vendo que o meu tempo estava se escoando, fiz o que qualquer pai amoroso faria, mudei o meu objetivo para o segundo filho, que com mais jeito que o mais velho aceitou tudo o que eu pude passar para ele.
Descobri então que com o segundo filho, tudo era mais fácil, pois, este já trazia de berço todos os dons que me foram passados por gerações, então investi neste, sempre com o intuito de regenerar o mais velho, indicando ao mais novo o caminho dos antigos, fiz com que este filho conseguisse com o seu carinho trazer o mais velho de volta, pois o segundo filho mostrou-se mais sábio que o pai e abrindo os olhos do primeiro filho o trouxe para o seio da tribo.
Depois de regenerado o meu primeiro filho retomou o seu lugar na tribo, ocupou o meu lugar, o qual o meu segundo filho controlou com muita sabedoria, ate a volta do irmão. Ai eu pude seguir o meu caminho no astral ate o dia em que pude tornar a encontrar a minha amada, e voltar a montar a minha tribo no astral.
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