segunda-feira, 28 de julho de 2008

CIGANOS ... OS FILHOS DA NATUREZA






Naquela manhã. Dário se levantou junto com a alvorada, havia passado uma noite muito estranha, não conseguiu conciliar o sono, alguma coisa o incomodava e ele não sabia o que era.




Com as mãos penteou os cabelos grisalhos, desceu os degraus de sua carroça, foi até a tina e lavou o rosto com bastante água. Sentia-se cansado pela noite mal dormida, saiu pelo grande espaço que ficava entre as carroças, o acampamento ainda dormia.


Passou por Ramon e mandou que ele fosse descansar, o cigano havia passado a noite como vigia, este agradeceu e se encaminhou para a sua tenda para o merecido descanso.




Dário andava por todo o acampamento, era a sua família, a sua responsabilidade o bem estar daquele povo, depois de anos e anos na estrada encontrara este local e ali já estavam há muito tempo.


Seu coração aventureiro mais de uma vez o impelira a seguir viagem, mas aquele era um bom lugar, água fresca vinda de uma nascente próxima, uma boa terra para cultivo, segurança do bosque que rodeava a clareira onde hoje estava o acampamento e o rio muito limpo que fazia uma curva ao lado deste local.


Afastou esse pensamento e se dirigiu a tenda da velha Silvana, ela já deveria estar acordada, ela era conselheira, a parteira, a mãe de todos os ciganos. Não estava errado, a cigana já estava sentada a porta de sua tenda, parecia meditar olhando o infinito.


- Bom dia Dário, também não conseguiu dormir?


- Bom dia Silvana vim em busca de suas palavras, só você tem o poder de me explicar o que estou passando.


- Calma amigo, antes de qualquer coisa tem que me contar o que acontece.


O velho cigano buscou algo para se sentar enquanto Silvana parecia meditar.


Logo Dário voltava com um pequeno tronco, colocou no chão e se sentou.


- Pois bem minha amiga, vamos conversar.


- Para isso estou aqui, vamos juntos resolver o que te perturba.


Dário agradeceu com a cabeça e falou:


- Sabes que estamos aqui á muito tempo, estamos criando raízes nesse lugar, muitos irmãos já se foram ao encontro de Deus, mas ao mesmo tempo novas crianças nasceram.


Silvana ouvia em silencio e concordava com tudo balançando a cabeça.


- Algo me impele a seguir viagem, este velho coração cigano pede que sigamos em frente.


- Esse é o nosso destino amigo, seguir sempre em frente.


- É verdade Silvana, seria a coisa mais natural do mundo nosso povo na estrada, algumas de nossas crianças nem sabem que são ciganas.


- Mais uma verdade amigo elas só conhecem o acampamento e seus arredores, ainda não conhecem o seu destino.


- Agora vou te explicar a minha duvida, devo deixar a segurança que hoje temos? Este é um bom lugar, temos água fresca à vontade, a terra é boa para o plantio, vivemos em paz, ninguém nos incomoda.


- Tens razão Dário, é algo para se pensar antes de tomar uma atitude, mas me diga uma coisa, esse desejo de partir começou hoje?


- Não minha amiga, já faz algum tempo, mas sempre vou adiando, só que nesta noite algo ou alguma coisa me diz que é chegada a hora.


- Eu também não consegui dormir meu amigo, sinto que algo está para acontecer, mas ainda não sei o que é, mas eu como você sei que nada é por acaso, precisamos fazer algo.



- Está resolvido. Vamos partir em alguns dias, vou avisar os outros assim que despertem.


Dário se despediu da velha cigana e saiu andando pelo acampamento que agora já estava desperto. Alguns homens já preparavam suas mercadorias para vender na cidade, jovens afinavam seus instrumentos, algumas ciganas se preparavam para mais um dia de buena dicha.




Ao verem o velho chefe andando pelo acampamento, vieram até ele, logo estava cercado por aqueles que ele costumava chamar de minha família.


Sorriu feliz, abraçou os mais próximos e acenou para outros, se deixasse passaria o dia trocando abraços e gentilezas com o seu povo.


Lucas um jovem cigano se aproximou e deu um beijo no pai e perguntou?


- Alguma mensagem para a gente pai?


O velho retribui o beijo do filho, mas não respondeu a pergunta, por alguns segundos seus pensamentos voaram.


Ah! minha Santa Sara, está acontecendo muito rápido, estou com a impressão que todos esperam a mesma noticia.


- Muito bem Tinha a intenção de falar com todos vocês esta noite, mas foram mais rápidos que esta velha cabeça.


- Diga logo pai.


Dário olhou para aqueles jovens, agora todo o acampamento estava a sua volta e ansiosos esperavam a sua mensagem.


- Minha gente, meu povo, minha família, já estou velho, o peso da idade já está sobre os meus ombros, nem sei se minha palavra será ouvida por todos. Sempre tomei as decisões que achei que seriam boas e justas para todos vocês, mas desta vez quero que todos opinem, prometo que a todos vou ouvir e só depois tomarei a decisão.


Os mais velhos balançaram a cabeça desaprovando a atitude, afinal ele ainda era o líder, não precisava da opinião de ninguém, todos confiavam nele, os mais jovens pelo contrário sorriam felizes, queriam falar e seriam ouvidos.


- Fale pai, pare de rodeios, todos estão esperando.


Dário estufou o peito e quase gritou:


- Vamos levantar acampamento, vamos voltar à estrada e seguir o nosso destino.


Parou de falar e ficou esperando a reação de todos, já imaginava uma discussão, idéias contrárias, mas afinal havia dito que ouviria a todos e assim seria feito.


Mas ninguém falou nada.


- E então? Ninguém vai falar nada? Prometi que ouviria e estou pronto.


- Quando partimos? Perguntou Dolores, uma linda cigana.


Logo todos batiam palmas, felizes, o coração cigano falava mais alto. Dário sorriu, ainda era respeitado, seu povo ainda confiava nele.


Ergueu os braços e os ciganos se acalmaram, esperando suas palavras.


- Já faz um bom tempo que sinto o desejo de voltar à estrada, mas sempre afasto essa vontade em troca do bem estar e da segurança que encontramos neste local, mas esta noite ainda não sei explicar o que aconteceu, mas algo me diz que devemos partir e já que todos vocês concordam é o que faremos.


- Quando pai?


- Dentro de alguns dias filho.


- E porque não agora, meu pai?


O velho líder olhou adimirado, esperava resistência e o que encontrou foi disposição em todos, prontos para segui-lo onde quer que fosse.


- Como eu disse que ouviria a todos, vocês resolvem.


- Agora gritou um cigano.


- Vamos para a estrada gritou outro e logo ficou decidido, o grupo cigano ia se mudar.


- Calma minha gente, não é assim de um momento para o outro, vamos nos organizar, verificar se as carroças estão em condições para a viagem, não se esqueçam que estão há muito tempo paradas, vamos verificar as provisões para a caminhada, não esqueçam de levar muita água, não sabemos o que vamos encontrar pela frente. Viajaremos de dia e descansaremos a noite. Se Deus assim o permitir pela manhã estaremos seguindo o nosso destino.




Neste dia todos permaneceram no o acampamento, começaram os preparativos para a viagem, nada justificava aquela pressa, mas uma força estranha movia o grupo, todos trabalhando ajeitando suas coisas, desmontando tendas e nesta mesma noite estavam prontos.




Tão logo os primeiros raios da alvorada surgiram no céu a caravana já estava em marcha, todos felizes, aquele momento era esperado há muito tempo.


A carroça de Dário lidera a marcha, toda a caravana segue atrás, sentada ao seu lado está Silvana que olha para o céu preocupada.


A marcha seguia lenta, alguns ciganos seguiam a pé, outros empurravam pequenos carros, mas lá pelo meio da tarde já haviam avançado uma boa distancia.


Um batedor seguira a frente já buscando um lugar para passarem a noite.


- Sabe Silvana, pensei que nosso povo estava feliz com a segurança, mas me enganei, todos estavam querendo seguir nosso destino, você viu a rapidez que usaram para desmanchar o acampamento? Ainda estou preocupado, não se esqueça que Madalena está quase para dar a luz e agora está em uma das carroças sacolejando na estrada, será que fizemos a coisa certa?


-Sempre fomos protegidos pela nossa Santa Sara e pela grande mãe a natureza e se estamos na estrada é porque de alguma maneira fomos ajudados.


- Tens razão, me preocupo sem motivo, mas veja o tempo começa a mudar, teremos chuva pela frente e já começa a ventar forte.


O vento cada vez mais forte e Dário olha em volta procurando um lugar para proteger a caravana da chuva que parecia estar se formando, ao longe avistou um cavaleiro que vinha em direção ao grupo, era o batedor que voltava.


- E então Danilo? Encontraste um bom lugar? Tem que estar próximo acho que teremos chuva.


- Encontrei chefe, é uma pequena colina duas milhas a frente, é segura e parece dominar todo este vale.


- Então diga a meu filho que apresse a marcha, temos que alcançá-la antes da chuva, diga que os que estão a pé troquem um pouco com aqueles que até agora estavam em carroças, precisamos marchar com muita rapidez.


Avistou ao longe uma elevação, açoitou os cavalos e gritou para que todos apertassem o passo. Agora o vento já atrapalhava a marcha, com dificuldade alcançam aquele ponto.


Nuvens escuras cruzam o céu, rajadas de vento levantam poeira e arrancam folhas das arvores, o grupo está na colina e já se preparam para enfrentar a tempestade que se aproxima.


Alguns homens procuram abrigo para os animais, outros movimentam as pesadas carroças para formarem um circulo, agindo assim protegem toda a caravana.


Relâmpagos iluminam o horizonte, alguns raios cortam os espaço, ao longe o som de trovões que parecem estremecer a terra. O dia parece ter se transformado em noite


E ela chega, primeiro alguns pingos solitários, em seguida a chuva forte, a tempestade havia alcançado a caravana cigana.


Muita água desce do céu, os ciganos apertados nas carroças, o espaço é pequeno, a grande maioria vive nas tendas que se estivessem montadas com certeza seriam levadas pelo vento.


A preocupação de Dário é com os velhos e as crianças e não esquecer de Madalena que está nos últimos dias de sua gravidez, preocupado e ao mesmo tempo se sentindo responsável pelo que estavam passando, pensa foi loucura sair assim às pressas daquele local seguro. Mas em meio ao desconforto, em meio à fome que agora estava chegando conseguiram vencer a longa noite.


Ao amanhecer ainda chovia muito, o vento havia parado, assim os homens saíram das carroças, muito haviam passado a noite em pé, não havia lugar nas carroças para se sentar ou mesmo se deitar, o pouco conforto que havia foi dado aos velhos e as crianças sobrando espaço em uma carroça para a futura mamãe.


Em meio à chuva que parecia não acabar nunca os ciganos tentavam melhorar a condição do povo. A primeira providencia foi levantar uma grande tenda para abrigar os animais, alguns não resistiram, a tempestade e haviam morrido, trabalho em equipe e logo os animais sobreviventes estariam protegidos.


Dois homens ficaram encarregados de trazer os animais para baixo daquela tenda, os outros começaram a levantar outra, esta seria usada como um refeitório coletivo, no chão muitas pedras, mas não havia tempo para limpar o terreno.


Algumas mulheres já ajudavam nesta tenda, iriam providenciar alimento para todos. Nesta tenda ficaram dois homens auxiliando essas mulheres. O restante do grupo se apressa em montar mais uma tenda, agora os idosos e as crianças terão onde ficar, ainda não existe conforto, mas já podem deixar o aperto das carroças.


Em pouco tempo todos estão protegidos da chuva, agora o inimigo é o frio porque as tendas só tem cobertura, os lados permanecem abertos.


Na tenda que serve agora como refeitório a dificuldade é fazer fogo, toda madeira está molhada, então são sacrificados alguns bancos, pequenas mesas, e só assim conseguem o fogo para preparar alimento para os homens que ainda trabalham na chuva e para todo o resto do grupo.


Agora a nação cigana mostra porque é considerada uma grande família, roupas secas são distribuídas entre aqueles que estão ensopados, Rodrigo sorri ao ver seu amigo com sua camisa enquanto ele estava com a de alguém, nada desanima essa gente, em meio a uma batalha já pensam na próxima.


Dário o velho chefe apesar da idade participou ativamente do mutirão para erguer as tendas e pode ver a liderança de seu filho, era ele quem organizava os homens, dava ordens e todos obedeciam, sorriu satisfeito seu povo estaria em boas mãos quando chegasse sua hora.


Mais alguns móveis e utensílios são sacrificados para uma nova fogueira que será acesa dentro da tenda maior, na realidade são pequenas fogueiras para aquecer aqueles que passam frio, alguns ciganos depois de se alimentar com uma sopa que as mulheres fizeram, tomaram um pouco de vinho e voltaram para a chuva, ainda havia muito a ser feito, deviam fechar os lados das tendas para tentar amenizar o frio e a chuva continuava forte e constante.


Dário apesar dos conselhos de sua amiga Silvana estava entre eles, tossia muito, mas mesmo assim queria ajudar, se sentia responsável por tudo que estavam passando, resmungava entre os dentes:


- Maldito coração cigano, aventureiro, olha onde nos levou, meu povo sofre e você é o único culpado, falava sozinho, e os outros ciganos notaram que Dário não estava bem.


A muito custo com a ajuda do filho levaram o velho cigano para sua carroça e o deixaram aos cuidados da amiga Silvana. Ele ardia em febre, mas tremia de frio, falava palavras desconexas.


Silvana colocou roupas secas no amigo e procurou aquecê-lo, foi até o refeitório e preparou uma poção com ervas para tentar abaixar a febre que parecia consumir o amigo.


Durante toda aquela noite a chuva não deu tréguas, não parou por um só instante, os ciganos acomodados da maneira que podiam e sendo filhos da grande mãe natureza esperavam que ela fizesse o seu papel, água para a vida, para os campos, florestas, água para os rios, água que renova, lava e purifica toda a terra.


O dia chegou e chuva permanecia com a mesma intensidade, os ciganos atentos ficavam cuidando das tendas para que não caíssem com a força da água, estavam confinados, não havia o que fazer a não ser esperar.


À noite de Dário foi terrível, a febre não baixava e Silvana ao lado de Lúcio faziam compressas para combatê-la, mas havia a tosse que não permitiu que o velho cigano descansasse, o dia o encontrou mais abatido e sem forças para lutar.


Outro dia se passou e a chuva não parou o grupo cigano preso em suas carroças, naquelas três tendas improvisadas, estava ficando cada vez mais difícil conter as crianças, queriam brincar na chuva e os mais velhos impediam e estavam tristes em saber que o grande chefe lutava pela vida.


Outra longa noite chegou, Dário dava a impressão de Ter melhorado, já dava para entender o que ele falava, Lúcio e Silvana permaneciam ao seu lado e tentavam entender o que ele falava..


- Meu filho, minha amiga.


- Fale pai, você escapou de uma boa, já está melhorando e logo vai estar comandando a gente na estrada.


- Esperança é uma linda palavra filho, tenha ela sempre como estandarte à frente do nosso povo, nunca perca a esperança, é ela que nos leva a viver a vida, um dia de cada vez.


- Porque está me dizendo isso pai?


- Porque é você quem vai liderar essa gente, sinto que minha missão está chegando ao fim, fiz muitas coisas boas para o meu povo, só errei uma única vez e estou pagando por isso.


- O que é isso meu amigo. Disse Silvana. Não foi você quem tomou a decisão, desta vez foi o povo, eles queriam voltar à estrada e você apenas concordou, não se culpe, ainda não sabemos a razão desta viagem que fizemos as pressas.


- Eu sei disso amiga, mas nada vai me tirar esta culpa do coração, peço perdão a Deus e a Santa Sara por esta loucura, podíamos estar em nosso canto protegidos, mas não, estamos passando necessidades sem razão.


- Não fale assim Dário, lembre-se nada é por acaso, você recebeu um aviso em sonhos, à única diferença é que ainda não soubemos interpretar a mensagem, tenho certeza que quando o fizermos, veremos que você estava certo, vamos aguardar.


- É verdade pai, essa chuva não pode durar muito tempo, logo você vai estar curado e nos guiando novamente.


As ultimas frases não foram ouvidas pelo velho cigano, ele dormia.


Silvana aproveitou para sair na chuva e ir até a carroça onde estava Madalena, aquela que esperava um filho e que já estava em trabalho de parto. Parto lento e doloroso lembrava a chuva que não parava de castigar o povo cigano.


Terceiro dia de chuva, já faltavam mantimentos, não havia mais roupa seca nem madeira para queimar, aquele dia parecia ser o pior de todos, os músicos tomaram a iniciativa, as jovens ciganas começaram a dançar e logo todos cantavam para esquecer aquele dia que parecia ser o ultimo de suas vidas.


Dário acordou com a cantoria de seu povo e sorriu feliz, nem tudo estava perdido, imaginou que a chuva já houvesse partido, imaginou-se em uma nova viagem, fechou os olhos e dormiu novamente..


Passava do meio dia quando o choro forte de uma criança foi ouvido por todos, Madalena sorri feliz, o choro forte é da recém nascida, choro que parece superar o barulho da chuva que nesse momento parece se render ao choro da criança e para como por encanto.


Silvana entrega a criança para a mãe, ela a beija e fala bem baixinho em seu ouvido o nome que só ela e a mãe vão saber, um segredo de mãe e filha.


- Que Santa Sara ilumine o seu caminho minha pequena Bárbara.


Aos poucos o dia volta a brilhar, todos abandonam seus abrigos, felizes as crianças brincam nas poças dàgua, homens e mulheres se abraçam comovidos, o pai da ciganinha é o mais feliz de todos.


Sarita é o nome pelo qual todos os ciganos vão chamá-la.


No horizonte um arco Íris corta o céu azul que agora tem pequenas nuvens brancas em movimento.


Nascimento no acampamento é motivo de festa, mas ela vai ser adiada, muita coisa para ser feita, recuperar o que havia se perdido alguns ciganos perderam tudo o que tinham para a tempestade.


Além da liberdade, do amor à natureza os ciganos são unidos e logo todos dividem seus bens com aqueles que tudo perderam, um batedor saí a cavalo em busca da cidade ou vilarejo mais próximo para comprar mantimentos, mas em menos de meia hora esta de volta e procura Dário para contar o que viu.


Na carroça do velho cigano estão Lúcio e Silvana e mandam o cigano entrar.Dário muito abatido mal reconhece o cigano, mas está pronto para ouvir as novidades.


- O que houve homem? Pergunta Lúcio


- O acampamento.


- Que acampamento? Pergunta Silvana


- O cigano respira fundo e fala:


- O local onde estava nosso acampamento foi destruído pela tempestade, o rio transbordou e invadiu aquele Lugar, está tudo devastado, se ainda estivéssemos lá todos teriam morrido. Foi Deus quem guiou nossos passos, um verdadeiro milagre, agora vou contar a todos e saiu correndo.


O olhar do velho cigano parecia perdido no infinito, grossas lágrimas desceram por seu rosto e ele em silencio agradeceu a Santa Sara, a Deus, a grande mãe natureza que havia poupado seus filhos e ao mesmo tempo abençoado a nação cigana com o nascimento de Sarita segurou nas mãos de Silvana e de Lúcio, um ultimo sorriso, um ultimo suspiro e Dário partiu rumo a eternidade.




A noticia do falecimento de Dário comoveu todo o acampamento, as emoções eram muitas, alegria pelo nascimento de Sarita, alegria por saber que haviam escapado da inundação e tristeza pela morte de seu líder.


Os velhos ciganos se reuniram para tomar uma decisão, quem deveria liderá-los a partir de agora e cuidar do sepultamento de Dário. Reza a tradição que os bens do velho líder deveriam ser queimados, mas os tempos eram outros, o acampamento sofrera grandes perdas com a tempestade, sendo assim os velhos ciganos houveram por bem dar a Lúcio a carroça e os pertences do pai.


A chuva dera lugar a um lindo arco íris que brilhava majestoso no horizonte, o jovem Lucio organizava o acampamento, auxiliava a todos, só parava para secar as lágrimas que teimosas que insistiam em cair, em alguns momentos chegava a visualizar o pai ao seu lado como sempre esteve. O jovem cigano havia perdido a mãe quando tinha apenas sete anos de idade e o pai o criara sozinho, era um pai severo e rigoroso, mas em compensação era também a mãe compreensiva e carinhosa, o irmão, o amigo.


Na grande tenda os velhos ciganos deliberavam sobre quem deveria continuar o trabalho de Dário, mandaram chamar seu filho.


Lucio chegou e cumprimentou o patriarcado cigano e logo recebeu a noticia que herdara a carroça do pai e seus pertences.


Ainda com os olhos vermelhos de tanto chorar o cigano pediu licença aos mais velhos e disse :


- Com a permissão do tribunal eu quero dar minha herança para Madalena, a cigana que havia dado a luz em plena tempestade.


Esse gesto de amor foi o bastante para que os anciões passassem para ele a tarefa de terminar a missão do pai, agora ele era o novo líder e deveria guiar o povo cigano em seu destino.




O funeral de Dário foi simples e singelo e neste momento disseram que ele salvara o acampamento de ser levado pelas águas, uma oração e a certeza que o espírito do velho líder continuaria com eles.


Aproveitando a ocasião os velhos ciganos avisaram ao grupo que a partir daquele dia Lucio seria o líder e que todos o ajudassem nessa nova missão.


Todos concordaram o jovem cigano havia demonstrado seu poder de liderança e seu amor pelas tradições ciganas, além disso, ordem do patriarcado cigano não se contesta, se obedece.




O acampamento cigano vai permanecer neste novo local para se recuperar das perdas, mas logo estará na estrada seguindo o seu destino, porque o futuro a Deus pertence.




fim


Gidelson E. da Silva

domingo, 20 de julho de 2008

UMA HISTORIA CIGANA


Todos sentados em volta da grande fogueira, hoje a musica serve como fundo, o pai grande conta uma de suas historias, as crianças adoram e é assim que elas aprendem os costumes ciganos.

Desta vez todo o acampamento está atento para ouvir o que ele vai contar, é a sua historia, como ele chegou ali e como Deus escreve certo por linhas tortas.

O velho cigano pigarreou e começou a falar:
- Quando completei 14 anos consegui finalmente dar um rumo a minha vida.Vida é um modo carinhoso de encarar o que eu passei, muito sofrimento, muita injustiça.
Não conheci meus pais, vivia em uma casa muito antiga e que havia se transformado em uma espécie de orfanato, ali muitas crianças que eram abandonadas a própria sorte encontravam um lar, muitas haviam perdidos seus pais na guerra, mas este não era o meu caso.
A grande verdade é que aquele lugar mais parecia uma prisão, eu por exemplo passava fome, era maltratado pelas freiras que dirigiam aquele lugar que eles chamavam de instituição.
Eu não era o único a sofrer, todos sofriam, por nada apanhávamos, castigos diários e por nada ficávamos sem jantar.
As religiosas comiam do bom e do melhor, na mesa delas muita fartura, carnes, pães, frutas e nós as crianças disputávamos as sobras com os ratos e com as crianças mais velhas.
Nem todas conseguiam sobreviver aos maus tratos, a falta de higiene, a fome aos poucos nos derrotava.
Muitas crianças ficavam pelo caminho.
- Ficavam pelo caminho? Perguntou uma criança
- Sim. Meu filho, morriam. - Para as freiras, era a vontade de Deus, enterravam o enjeitado ( era assim que ela nos chamava ) e logo era esquecido por todos.
Crianças morriam, crianças chegavam. Era uma roda vida onde os mais fortes conseguiam se manter vivos..
Apesar de todas as dificuldades aprendi a sobreviver, fazia de tudo para não ser notado, sempre que era possível roubava comida das freiras e escondia.
Novamente foi interrompido por outra criança:
- Vô você roubava?
- Não minha criança, eu apenas pegava a comida que era nossa porque só nos davam lavagem.
- O que é lavagem?
- Lavagem são os restos de comida que dão aos animais, esse era o nosso alimento.
Cigano eu sou, mas naquela época eu ainda não sabia .e por fim me batiam porque eu era um dos menores, além de ruim a comida era pouca e só os mais fortes conseguiam pegar a sua parte, aos pequenos ficavam as sobras.
- Gente ruim né vô ?
O velho nem respondeu, concordava com a criança..
- Agora voltando a história, a primeira vez que eu os vi devia Ter uns 7 ou 8 anos de idade, estávamos todos amontoados no que eles chamavam de area de descanso, tomando sol e a caravana cigana passou na estrada.
Todos se espremeram nas grades do portão para olhar aquele grupo de pessoas, alguns meninos xingaram e um deles olhou para mim e disse:

- Olha lá o teu povo, ladrãozinho, quem sabe tua mãe não está dormindo com um deles.
- Minha vontade era de matá-lo, mas a chance de eu morrer era maior, então abaixei a cabeça e me afastei chorando de raiva.
A cada seis ou oito meses passava uma caravana cigana e sempre acontecia a mesma coisa, xingavam, ofendiam e quando o grupo cigano sumia na estrada as ofensas eram para mim..

Confesso que ser chamado de cigano uma ofensa maior que ser chamado filho de rameira, enjeitado, mas não teve jeito esse passou a ser o meu apelido e minha cruz. Mas até isso me deu forças para continuar lutando pela minha sobrevivência.
Com o passar do tempo me acostumei ao meu modo de vida, fazia de tudo para não ser notado, nem pelas freiras, nem pelos companheiros, não entrava mais na disputa pela comida, raras vezes me batiam e eu sabia suportar.
- E o senhor não tinha fome? Perguntou outra criança.
- Claro que tinha, mas eu suportava até a noite. Ficava sem o almoço, sem o jantar e quando todos iam dormir, saía da cama devagarinho e ia ao meu esconderijo pegar comida. Ah! Como eu comia, riu o velho cigano, e precisava comer mesmo, minha próxima refeição seria somente na próxima noite.
- E não faltava comida? Perguntou um jovem cigano.
- Não meu filho, nunca deixei aquele lugar sem comida, sempre que tinha oportunidade pegava tudo que servisse como alimento e escondia, afinal minha vida dependia do que eu conseguisse arranjar e esconder.
Essa boa fase de minha vida durou alguns meses, mas todos estranhavam, como era possível não comer e não Ter fome, não ficar doente, não emagrecer, era um mistério que ninguém conseguia explicar. Agora além de cigano, ladrão me chamavam de bruxo.
- O senhor fazia feitiço? Perguntou uma menina
O riso tomou conta do grupo
- Claro que não. Mas era realmente estranho e todos ficavam tentando adivinhar o que acontecia, aliás todos não, as religiosas nem sabiam quem comia ou deixava de comer, para elas pouco importava.
Novamente a mesma criança fez o comentário:- Gente ruim. Né vô?
- Muito ruim mesmo minha menina.
Então certa noite, estava com muita fome e cometi meu primeiro e ultimo erro. Achando que todos já estavam dormindo levantei pé ante pé e fui ao meu esconderijo, não tive tempo nem de colocar um pedaço de pão na boca, fui descoberto.
- Um dos garotos descobriu pai grande?
- Se fosse apenas um com certeza eu teria conseguido controlar a situação, não era um, acho que todos esperavam esse dia.
- O que aconteceu vô?
- Primeiro comeram tudo que eu tinha guardado, e eu até entendo, também tinham fome, mas depois fui surrado por todos, os maiores me socavam e quando caí os menores me chutavam, fui jogado de um lado para o outro, eles me odiavam.
- Coitado do vô. As crianças estavam desoladas-
O cigano deu um sorriso triste e continuou, queria esquecer aquele dia mas precisava passar adiante a sua historia.
- Tanto barulho, tanta algazarra, meus gritos acabaram acordando as religiosas, chegaram furiosas atacando todo mundo e eu que achava que ia morrer nas mãos delas meu enganei, elas me salvaram. Mal conseguia ficar de pé, os dois olhos pareciam manchas escuras, não conseguia abri-los e sangue muito sangue saía de minha boca, perdi dois dentes.
O silencio de todos parecia reviver o momento pelo qual o velho cigano havia passado.
- O velho abriu a boca e mostrou dois dentes de ouro e falou:
- Estes foram os dentes que perdi.
- O que está acontecendo aqui? Gritou a religiosa
Vendo que todos iriam ser castigados começaram a contar o que haviam descoberto. Eu mal conseguia enxergar, mas os olhos da freira pareciam duas labaredas de fogo e ela apesar do meu estado ainda me deu uns tapas e arrastou-me dali gritando para que todos fossem dormir.

Fui jogado no porão, meus ferimentos sangravam, a dor era muita, mas a fome superava tudo, estava sem colocar nada na boca a mais de um dia.
- E como foi sua noite pai grande?
- Gostaria de esquecer mas não consigo, foi horrível meus amigos, aquele porão parecia uma tumba, um mal cheiro terrível, ratos e baratas habitavam aquele lugar, passei a noite sem dormir, o sono vinha e eu conseguia espantá-lo, se dormisse seria atacado pelos ratos e baratas que pareciam esperar que isso acontecesse. Foi difícil mas consegui suportar.
Eu até achava que merecia o que havia recebido dos companheiros, mas das freiras não, tudo que eu fiz foi para continuar vivendo.
- Nossa vô e o senhor chorou?
- Chorei sim, afinal eu era uma criança como vocês, hoje não choro mais.
- Continue pai grande.
- Está bem vou continuar, alguém pode me trazer uma caneca de vinho, a garganta está seca.
- Eu vou buscar. Disse uma cigana. Me espere antes de continuar.
- Então vamos todos fazer uma parada, depois voltamos- O grupo se desfez e cada um foi para sua tenda ou carroça, beber uma água, colocar os pequeninos para dormir, fazer suas necessidades.

A caneca de vinho chegou e o velho cigano se recostou para bebê-la, ficou admirando o acampamento, como era bom ser cigano, ser livre, amante da natureza, abaixou a cabeça e agradeceu a Deus pela vida que hoje tinha, fechou os olhos e dormiu.

Aos poucos os ciganos foram retornando, estavam todos curiosos em saber a história dovelho cigano.
Onde eu parei?
- O senhor estava preso no porão machucado e com fome. Disse uma ciganinha.
- Ah! É verdade. Continuando, aquela foi uma noite que parecia não Ter fim, mas consegui atravessá-la e pela manhã fiquei esperando que alguém viesse em meu socorro, me enganei. Passei a manhã inteira vendo o sol por uma pequena janela, ouvia as outras crianças falando, mas ninguém se lembrava de mim, parecia que eu nunca havia existido.
Uma ciganinha de uns 12 anos ouvia a historia e lágrimas desciam do seu rostinho, o velho tirou o lenço que tinha no pescoço e limpou aquelas lágrimas que teimavam em correr.
- Não chore ciganinha, nós somos fortes e abençoados, olha o vovô como está feliz hoje.
- Não pare pai, continue a historia pediu um cigano.
- No inicio da tarde, acho que já era tarde, não tinha como saber por aquela janelinha, ouvi que entraram no porão, eram duas freiras, traziam um pedaço de pão e uma jarra com água, deixaram logo na entrada, antes de sair uma delas disse:
- Olha aí cigano, isso é seu e jogou algo que na pouca claridade nem vi o que era. Guarde com você, se morrer quem sabe por isso descobrem quem você é.
Trancaram a porta e se foram.
- O que era vô? O que ela jogaram?
- Calma, eu chego lá. Primeiro precisava beber água e comer alguma coisa, então devorei aquele pedaço de pão duro e bebi muita água, mas deixei um pouco, não sabia quando elas iam voltar, ainda rasguei as mangas da minha camisa, molhei na água e limpei meus ferimentos, ainda doíam mas já dava para suportar, em seguida fui procurar o que a freira tinha jogado, tateei por onde achava que havia caído e por fim encontrei.
- O que era vô?
O velho abriu a camisa e mostrou a corrente e o medalhão, não era ouro, não era uma jóia, não era bonito,era de cobre, mas tinha uma estrela de seis pontas, era chamada também de a estrela de Davi.

- Todas as crianças queriam ver o medalhão e o cigano tirou e deixou que as crianças admirassem e logo veio a pergunta:
- O que é essa estrela?
O velho cigano pacientemente explicou:

- Simboliza proteção. É usado como talismã de proteção contra inimigos visíveis e invisíveis. Ela também é conhecida como Estrela Cigana e Estrela de Davi.
A Estrela Cigana é o símbolo dos grandes chefes ciganos. Possui seis pontas, formando dois triângulos iguais, que indicam a igualdade entre o que está à cima e o que está a baixo. Representa sucesso e evolução interior.
Os mais velhos entenderam a explicação, as crianças nem tanto, mas elas eram novinhas tinham toda a vida pela frente para aprender os costumes e depois passa-los as próximas gerações.

Naquela epoca eu não sabia nada disso, mas como a freira disse que era minha guardei, era meu tesouro, eu que não tinha nada agora tinha um tesouro, coloquei no pescoço e tentei dormir enquanto havia um pouco de claridade.
- Não sei quanto tempo dormi, já estava escuro quando acordei ou melhor fui acordado pelos insetos, levantei depressa batendo na roupa para espantá-los. Ninguém havia aparecido para saber se eu ainda vivia, meus olhos estavam pesados e tornei a dormir.
- Cigano
- Cigano
- Alguém me chamava mas não dava para enxergar, senti raiva por ser chamado de cigano, mas era alguem que talvez viesse me ajudar, então gritei :
- Estou aqui.
A voz que me chamava era linda, nunca tinha ouvido algo semelhante, parecia uma musica e aquele porão fétido e escuro de repente se iluminou, não consegui ver o seu rosto, meus olhos machucados, aquela luz brilhava tanto que parecia me cegar, forcei a vista e tudo que consegui ver foi um vulto de mulher e ela voltou a falar:
- Cigano porque você renega seu passado?
- Não entendi nada, mas fingi que havia entendido. Ela na hora viu que eu estava mentindo e explicou:
- Quando eu digo passado ciganinho quero dizer suas raízes, sua gente, seus antepassados.
- Que passado? Meu passado era hoje e meu futuro também, cheguei a pensar que estava morrendo.
- A partir de hoje você deve se orgulhar do que é, deve respeito aos seus pais embora não os tenha conhecido, deve honrar toda a nação cigana.
- E o que eu sou senhora?
- Você é um cigano.
- Pronto, mais um me chamando de cigano e eu estava começando a gostar dela. Na verdade acho que ela lia meus pensamentos e ela voltou a falar:
- Não sente vontade de ser livre? Não se sente discriminado por todos? Não sofreu na própria pele a maldade dos homens e no seu caso também das mulheres?
- Era verdade, tudo que ela falou acontecia e estava acontecendo comigo, puxa vida eu era cigano mesmo.
- Guarde o seu tesouro menino ele te levará ao teu povo.
- Como assim? Me levará ao meu povo?
- Tempo ao tempo cigano, você não está sozinho.
Então aquela luz foi se apagando aos poucos e voltou a escuridão.
- Quem era aquela moça vovô.
- Era um anjo. Minha menina, um anjo de luz.
- Não pare pai, continue queremos saber como termina sua historia!
- Era um anjo minha gente e ele passou a me ajudar, era um enviado de Deus, mas continuando, fiquei aquela noite acordado, sentia frio, meus dentes, aqueles que sobraram batiam um no outro, estava doente e sentia a vida me abandonando aos poucos, pela manhã abriram aquela porta e desta vez me carregaram para fora.
A luz do dia me cegou, meus olhos machucados já estavam se acostumando com a escuridão, estava muito debilitado, não conseguia permanecer de pé e as crianças ficaram todas em volta curiosas para saber se eu conseguiria sobreviver, elas achavam que não, mas eu tinha certeza que sim, afinal eu era um cigano.
Desta vez todos bateram palmas, as crianças, os jovens, os adultos o orgulho de ser cigano era passado de geração a geração.
O velho cigano sorriu, seu povo era e continuaria sendo orgulhoso de suas raízes, dava para sentir na alegria das crianças. Por um momento ficou parado olhando a lua, mas foi chamado de volta para continuar sua narrativa.
- Pois é minha gente, dei um trabalho danado para aquelas religiosas, não sei porque queriam minha cura a qualquer preço e não mediam esforços para isso, fui tratado, alimentado, me deram roupas e aos poucos fui me recuperando, elas deviam estar esperando uma visita das autoridades, mas elas nunca apareceram.
Agora o mais importante aconteceu, as outras crianças passaram a me respeitar, ninguém mais me agredia e deixaram de me chamar de cigano, só que eu queria ser chamado de cigano e foi o que fizeram, portanto ontem como hoje e sempre sou cigano.
- Todos somos pai. Disse um jovem.
- É verdade filho, mas voltando a historia visto que a hora já se faz, para mim tudo mudou, podia dizer que tinha uma nova vida, mas não estava feliz, o coração cigano falava mais alto, o desejo por liberdade aos poucos me agitava, devia haver alguma maneira de me libertar daquela prisão e foi o que fiz.
- O que o senhor fez vô?
- Eu fugi minha menina, como um passaro voei para a liberdade, não sabia o que iria encontrar, não conhecia nada fora daqueles portões, mas eu era cigano, nasci livre e livre ia permanecer não importava as conseqüências.
Sendo assim em certa noite pulei aqueles portões e peguei a estrada, aquela mesma que tantas vezes vira a caravana cigana passando, a ultima já fazia vários dias que havia passado então segui pelo mesmo caminho, quem sabe com um pouco de sorte eu os alcançaria.
- E o senhor os encontrou pai?
- Calma, eu chego lá. Caminhei ao lado daquela estrada por uma boa parte da noite, não sabia se estavam me procurando, deitei embaixo de uma arvore e dormi tendo o céu e as estrelas como companheiros, como era bom ser livre.
- Nada como viver com a natureza não é vô?
- Verdade minha menina, não tem ouro que pague esta nossa vida
O velho cigano deu uma pausa, revivia aqueles momentos e foi um ciganinho quem o trouxe de volta a realidade.
Não para vô, a historia é boa.
- Está certo menino, vamos em frente.
Naquela noite ela voltou, parecia mais linda tendo as estrelas e a lua refletindo em seus cabelos, o meu anjo voltou.
- Cigano
- Estou aqui senhora.
- Como você se sente meu filho?
- cansado, com fome com sede, mas feliz como nunca senhora. Obrigado por abrir meus olhos e me guiar no meu destino.
- Seu destino ainda está distante, mas o mais importante é que você meu menino está no caminho, tenha fé, acredite, Deus guiara seus passos e eu estarei sempre ao seu lado.
- Acordei com o sol batendo em meu rosto, a fome e a sede vieram fazer companhia, mas meu destino era seguir sempre em frente, como o anjo havia me dito eu estava em busca do meu povo. Continuei caminhando e encontrei uma plantação de milho, peguei algumas espigas e segui comendo, não era uma refeição, mas ajudou a me manter forte, só precisava encontrar água e eu encontrei também, meu anjo estava comigo.
Pelo visto ninguém se incomodou com a minha fuga, então voltei a caminhar pela estrada, depois de um certo tempo caminhando ouvi o barulho de algo que vinha pela estrada fiquei na duvida se devia ou não me esconder, resolvi esperar que se aproximasse e ela foi chegando, era uma velha carroça dirigida por um senhor puxada por dois cavalos, ao me ver parou e perguntou:- - Para onde está indo menino?
- Boa tarde senhor, estou em busca do meu povo, passaram por aqui a alguns dias e estou tentando alcançá-los.
- Então você é cigano menino?
- Pensei antes de responder, e se ele odiasse os ciganos?
Mas alguma coisa me dizia para falar a verdade
.- Sou cigano senhor, com muita honra.
O velho sorriu, uma gargalhada amistosa e falou;
- tão jovem e tão orgulhoso, continue assim menino. Vamos lá pode subir e se sentar aqui ao meu lado, seu destino é o meu, também estou indo encontrar o povo cigano, deu me algo para comer, água para matar minha sede e seguimos viagem.
- A sorte voltou a sorrir para você pai grande. disse um cigano.
- Outra verdade, sorriu mesmo. Lourenço era o nome desta boa alma que agora estava me ajudando, comerciante do vilarejo próximo negociava com os ciganos a muito tempo, trocava mantimentos pelos artefatos que a nação cigana fazia, era muito estimado pelos ciganos e me disse durante a viagem que se pudesse escolher queria ter nascido cigano como eu.
- Já estamos chegando menino, logo ali adiante está o acampamento, você poderá encontrar seus amigos, tomar um banho, trocar essas roupas imundas.
- Eu me senti na obrigação de contar minha historia para esse novo amigo e ele ficou penalizado com o que eu havia passado.
- É meu amiguinho, você tão novo e já conheceu a maldade que existe no coração das pessoas, mas Deus é grande, prova disso é que estamos indo ao encontro da sua família.
Já dava para ver uma fumaça branca no horizonte, era o acampamento cigano, meu coração disparou, não sei explicar o que eu senti naquele momento, mas era bom.
Finalmente adentramos no acampamento cigano, não sei como, mas me senti em casa, alguns homens vieram ao encontro da carroça cumprimentaram Lourenço e a mim, descemos da carroça e nos foi servido algo para beber, eu estava muito cansado.
Lourenço chamou um homem de lado e ficaram conversando por alguns minutos, em seguida este cigano veio até onde eu estava e disse:
- Venha comigo menino, vais tomar um banho, ganharás novas roupas, se tens fome vais comer e em seguida Lourenço te levará até o Pai Grande.
Fui levado até uma grande tenda, ali havia uma tina com água, outra vazia e Ramon esse era o nome do cigano pediu que eu tirasse água de uma e tomasse meu banho na outra.
- Não tenha pressa menino, vou providenciar roupas para você.

Enchi aquela tina com água fresca, tirei meus trapos e entrei, o contato com a água fria me trouxe ao encontro deste novo mundo que se abria para mim, agradeci a Deus e ao meu anjo por estarem me ajudando, fiz uma oração silenciosa.
- Pronto menino? Vista essas roupas, devem te servir, são do meu filho e ele tem quase o mesmo tamanho.
- Agradeci e me troquei, Ramon me esperava na entrada da tenda e fomos ao encontro do Pai Grande.
Que coisa linda que era o acampamento, homens, mulheres, crianças todos fazendo alguma atividade olhavam para mim curiosos, mas ninguém disse nada.
Entramos na tenda do chefe do grupo, aquele que todos chamavam de Pai grande, meu coração
queria sair pela boca, o que será que ele ia falar?
- Seja bem vindo filho de Ramires, eu nunca perdi a esperança que um dia você ia entrar nesta tenda.
Levantou-se e me ergueu como se eu fosse uma pena, deu-me o abraço mais carinhoso que eu recebi nesta vida, desta vez confesso que chorei, mas foi de alegria.
- Filho de Ramires? Quem Eu ?
?- Isso mesmo menino, Ramires foi o teu pai e Madalena tua mãe, eles não estão mais conosco, pelo menos em corpo, mas tenho certeza que em espírito devem estar radiantes pela tua chegada.
Lourenço me contou a sua historia, depois você me dá mais detalhes, o importante é que chegou, está em sua casa, com o seu povo, com a sua família.
- Agradeci de coração, limpava o rosto, mas as lágrimas teimavam em cair.
- Chore menino, ainda hoje vou te contar muita tristeza e te ensinar que não somos vingativos, sabemos perdoar, mas não agora, venha conhecer seu povo.
Lourenço aproveitou para se despedir do Pai Grande, já haviam descarregado a carroça de mantimentos e agora ela estava cheia de panelas, baldes, talheres de cobre, a troca já fora feita. Dei um abraço naquele novo amigo e ele desejou que eu fosse muito feliz.
O pai grande agradeceu ao comerciante e disse:
- De todas as mercadorias que trouxestes, essa é a mais valiosa e me abraçou novamente.
- NAÍ LOVÊ ANÊ LUMIA THIÊ POTIRIÁS EK CHAU( Não existe dinheiro no mundo que pague um filho). Siga em paz companheiro, até outro dia.
O pai me pegou pelo braço e fomos andando em direção ao centro do acampamento, logo éramos cercados por todos, esperavam ansiosos o que ele ia dizer.
- Sabem quem é esse menino?
Silencio absoluto, ninguém sabia quem eu era!
- Ele é o filho perdido de Ramires que voltou para casa.Desta vez o silencio foi quebrado por um outro cigano:
- Como podes ter tanta certeza pai?- Meu coração não se engana, mostre para eles menino.
- Meu Deus. Mostrar o que? A única coisa que tenho é o meu tesouro, será que é isto que devo mostrar? Então abri a camisa e tirei meu medalhão.
A principio ninguém falou nada em seguida fizeram uma verdadeira festa ao ver o meu tesouro, os homens me abraçavam, as mulheres me deram beijos na face, as crianças batiam palmas e um cigano me abraçou dizendo:
- Seja bem vindo filho do meu irmão, era meu tio e eu tinha uma tia, vários primos e a família cigana comigo, nunca mais estaria sozinho.
Aquela noite ficamos até altas horas a beira da fogueira, todos queriam ouvir a minha historia e eu contava feliz, foi o Pai grande que me ajudou:
- Vamos deixar o menino descansar, amanhã vocês terão tempo para conversar.
Meu tio me levou até a sua tenda e disse a partir de hoje aquela é a sua cama, sempre esteve ali te esperando, fique com Deus, bom descanso.
- Obrigado.
- Não me agradeça, o lugar sempre foi seu apenas guardei.
- Tio. Posso perguntar uma coisa?
- Claro menino tudo o que quiser.
- Como eram meus pais?
- Amanhã menino, amanhã você vai saber de tudo, por hora durma, descanse é o que mais precisas no momento.
Dormi como um anjo e por falar em anjo sonhei com o meu, desta vez não estava só eram dois e sorriam para mim, estavam tão felizes quanto eu estava.

No dia seguinte ninguém me acordou, deixaram que eu dormisse o tempo que fosse necessário para recuperar minhas forças, levantei e já estavam almoçando, meu tio indicou o lugar onde deveria fazer minhas necessidades, lavar o rosto e sentar ao lado de todos que sorriam com a minha chegada.
Meu Deus, naquela toalha estendida no chão havia muita fartura nunca havia visto tanta comida, frutas, carne, pão e podia comer o que quisesse,
- Matou a fome vô.
- É verdade me senti um Rei. Pois muito bem, depois da refeição fui de encontro ao Pai grande que perguntou se eu estava descansado, alimentado e se eu queria mais alguma coisa.
Respondi que tinha tudo que jamais havia sonhado. Ele sorriu e disse:
- Então vamos conversar.
- Vai me contar sobre meus pais?
- Vou menino, é uma historia tão triste quanto a sua.
- Pai. Posso perguntar algo antes?
- Sim menino, e pode parar o que eu estiver falando sempre que tiver duvidas, vamos lá pergunte.
- Qual o meu nome?
Ele sorriu mostrando os dentes de ouro iguais os que tenho agora.
- Você tem o nome do seu avô. Que Deus o tenha junto com seus pais, seu nome é Diego.
Que nome lindo, então, eu sou o cigano Diego.
- Isso mesmo cigano, tenha orgulho desse nome, ele acompanha sua família a varias gerações, mas vamos falar dos seus pais.
- vamos Pai Grande, estou ansioso.
- A muitos anos atrás, quase a sua idade, seu pai que era o líder desse grupo, um dia ele e sua mãe foram a um vilarejo próximo do lugar onde estava montado nosso acampamento em busca de mantimentos, levavam o pequeno Diego no colo, nessa época você tinha menos de um ano de idade, desta vez não iriam fazer trocas e sim comprar o que faltava no acampamento, portanto carregavam valores para a compra e desgraçadamente foram emboscados por malfeitores que andavam por aquelas bandas.
Quando se passou um dia desde a sua saída e não voltaram alguns homens foram tentar encontrá-los e em plena estrada encontraram a carroça queimada, os corpos estavam a alguns metros e mostravam que eles lutaram pela vida e perderam e você meu menino ninguém encontrou, muitas buscas foram realizadas e nada de encontrar o filho de Ramires, as autoridades pouco se preocuparam em encontrar os culpados, afinal quem havia morrido eram ciganos e o caso foi por eles esquecido, mas não para nós sempre te procuramos e como eu disse meu coração sabia que um dia você ia voltar e ele estava certo.
Lágrimas desciam pelo meu rosto e me lembrei do meu anjo, será que era minha mãe e aquele da noite anterior devia ser o meu pai, agora eu sabia que eles estavam felizes e ao lado de Deus.
- Agora meu filho, você deverá aprender nossos costumes, nossa língua, nosso amor pela liberdade, pela mãe Natureza deverá conhecer nossas tradições e quando chegar minha hora é você quem vai guiar nosso povo, e pela sua experiência de vida será um grande líder, que Santa Sara ilumine o seu caminho.

- Linda historia de vida Pai. Disse um jovem cigano.
- É verdade, na vida temos que superar os obstáculos que surgem em nossa jornada, que minha vida sirva de exemplo para todos vocês, não desanimem.
Aprendam a viver com esta diferença, quer queiram ou não, nós os ciganos somos diferentes, somos especiais, somos mensageiros da paz e por onde vocês passarem deixem saudades, façam com que a nossa musica continue ecoando durante muito tempo depois da nossa partida e que Santa Sara continue iluminando todos vocês.
Vamos dormir que amanhã é um novo dia.
FIM
Gidelson E. da Silva
em 11.01.2006

quinta-feira, 17 de julho de 2008

SONHE CIGANA


Salve cigana

Seja bem vinda ao convívio do teu povo...

Todos estavam te esperando.

Parece que até a lua surgiu por entre as nuvens para te saudar.

Nossa fogueira, parecia triste e sem calor....

Agora as chamas parecem dançar de alegria e tentam beijar as estrelas..

Suas roupas estão na carroça, seus adereços, suas amigas, sua magia .....

Vá cigana e volte para reencontrar a alegria de ser livre.

Liberte-se das amarras que te prendem...

Deixe que a musica embale seu coração.

Dance cigana, permita que todos sintam o prazer de te ver dançando.

Relembre tua estada por nosso acampamento com emoção...

E quando chegar a hora de partir não diga Adeus.

Diga apenas .... Até um dia .....

Eu vou continuar aqui te esperando sempre.

O tempo é meu aliado....

A eternidade não parece distante...

Vou ficar te esperando

Na certeza de um novo reencontro ....

Que pode ser em um novo amanhecer .......

ou quem sabe ......

Em um novo sonho.


Gidelson E. da Silva

domingo, 13 de julho de 2008

A CIGANA DA ROSA


O dia era 23 de maio, o sol já desaparecia no horizonte e o acampamento cigano se preparava para mais uma noite na estrada, os ciganos e ciganas mais jovens estranhavam porque não estavam se preparando para a festa de Santa Sara que seria no dia seguinte, tudo que o velho líder pedira era que separassem alguns tonéis de vinho para receber convidados.

A fogueira estava acesa e a fumaça branca subia em direção ao céu estrelado, o povo cigano aguardava os visitantes, ninguém sabia quem eram e isso aguçava a curiosidade dos jovens e crianças.

Um tropel de cavalos era ouvido a distancia e o barulho estava cada vez mais perto, olhavam para o velho líder e ele sorria feliz, ninguém entendia o que estava acontecendo, os jovens e crianças agitadas, os velhos calmos e sorrindo.

E foram chegando, eram aproximadamente cem soldados, armados e prontos para uma guerra, cercaram todo o povo cigano e o líder daquela tropa adentrou ao acampamento, seu cavalo, negro como uma noite sem luar parecia marchar em direção ao velho líder cigano, apeou do animal e o abraço dado mostrou que eram velhos conhecidos.
Os velhos da tribo bateram palmas, os mais jovens acompanharam.

O comandante ordenou que a tropa armasse um acampamento, alimentassem os animais e descansassem, passariam a noite com o povo cigano e pela manhã seriam a escolta dos convidados da Duquesa da Rosa.

O povo cigano estava todo reunido em volta da fogueira e Kael junto com o comandante conversavam, o vinho foi mandado para os soldados que também estavam reunidos bem próximos, eles não entraram no acampamento.

Todos esperavam as palavras de Kael e ele parecia se divertir com a curiosidade dos jovens, depois de algum tempo ele disse:

- Meus irmãos esse amigo que nos visita é uma gadje muito querido por nós, um verdadeiro cigano de alma e coração e nosso povo tem uma divida de gratidão para com ele, então para que vocês mais jovens conheçam o motivo da nossa confraternização, vou lhes contar a historia da Cigana da Rosa.

- Um dia, um de vocês ainda vai liderar nosso povo e, portanto devem saber como proceder. Diferente do que se pode imaginar, a mudança do acampamento é feita com muitos cuidados, a saúde dos nossos velhos e das nossas crianças é verificada, todos devem estar em boas condições para se enfrentar uma viagem, assim como as carroças e os animais.
Nosso destino é previamente escolhido, também calculamos o numero de dias que serão necessários para percorrer a distancia entre duas cidades ou povoados e além de todos os esses cuidados a segurança do nosso povo deve ser garantida, agir dessa maneira é uma regra de sobrevivência..
Para tanto um batedor segue alguns dias antes e escolhe os lugares com condições seguras para que a caravana passe a noite descansando, para continuar a viagem no dia seguinte.

A muitos anos atrás, daquela vez e somente daquela vez o povo cigano mudou seus hábitos, descansar durante o dia e viajar durante a noite, tudo era feito para que pudessem atravessar essas terras sem serem percebidos.
Essas terras pertenciam ao Duque Dimitri, também conhecido como o Duque Negro, sua maldade havia ultrapassado todas as fronteiras e todos o temiam e nosso povo pacífico por natureza queria evitar esse encontro.
Quem liderava essa caravana era Marko, um cigano forte e decidido, viúvo, perdeu a esposa e nunca mais se casou, tinha ao seu lado na carroça que liderava a caravana sua filha Sarita, uma linda cigana que na época tinha dezoito anos idade, essa cigana tinha um dom maravilhoso na leitura das mãos e era conhecida por todos como a cigana da rosa, isso porque em seus cabelos negros sempre havia uma rosa.

Depois de dois dias de viagem o cigano Marko ordenou que parassem para descansar, haviam chegado aos limites das terras do Duque.
Uma pequena clareira ao lado da estrada é o local escolhido para se improvisar um acampamento, descansariam e se preparariam para atravessar as terras do Duque durante a noite, agindo assim esperavam que ao romper de um novo dia já estivessem longe daquelas terras. Tudo para evitar um confronto com os soldados do Duque.

Pela posição da lua no céu Marko calculou que seriam 23 horas, uma boa hora para seguir a viagem. Não era fácil comandar mais de 38 carroças e aproximadamente 320 ciganos entre homens, mulheres e crianças, alguns seguiam a pé ao lado da caravana, a marcha era acelerada, mas ninguém reclamava.

O primeiro sinal da mudança do tempo foi o vento forte que alcançou o povo cigano, aos poucos a lua foi desaparecendo no céu e a chuva chegou sem aviso, em poucos minutos a estrada de terra batida foi ficando impossível de ser vencida e os problemas começaram a acontecer, um das carroças perdeu a roda e tiveram que parar e esperar que a chuva acalmasse um pouco para que pudessem fazer os consertos e tentar seguir viagem.
Era tudo que Marko não queria, mas não podia evitar.
Um novo dia chegou e ainda chovia, a chuva agora era fraca e já podiam arrumar a carroça quebrada e aos poucos tentar seguir adiante, se pudesse Marko deixaria a estrada e montaria por ali mesmo um acampamento para esperar alguns dias e retomar a viagem, mas estavam nas terras do Duque e isso poderia ser considerado como uma invasão.

Era uma luta contra o tempo, os ciganos tentavam levantar aquela carroça em meio ao barro, velhos, mulheres e crianças dentro das carroças, a chuva fina castigando e em meio a tudo isso chegaram os soldados.
O que vocês viram aqui hoje foi exatamente como aconteceu há muitos anos atrás, os soldados cercaram o povo cigano e o comandante entrou a cavalo, a diferença era o tratamento e esse soldado perguntou:
Quem lidera esse bando de ladrões?
Marko tendo ao lado Sarita deu um passo à frente e disse:
- Sou eu senhor, tivemos problemas e por isso estamos aqui, mas não somos ladrões, somos um povo pacífico e só queremos seguir em paz nossa viagem.
- Isso é o que todos dizem, disse o soldado, mas vocês estão nas terras do Duque Dimitri e aqui os ladrões e invasores são enforcados.
- Veja senhor, não temos armas, temos muitos velhos, mulheres, crianças, não somos uma ameaça ao grande Duque, permita que consertemos nossa carroça e vamos embora em paz.
- Essa decisão cabe ao senhor Duque, meus soldados ficarão aqui e você vai comigo, vamos ver o que o Duque decide, por hora seus homens podem continuar o conserto, mas a sua viagem acaba aqui.

- Vou com você meu pai, disse Sarita.
- Não filha. Fique aqui com os outros, eu logo voltarei.
- A mulher que se diz sua filha vem com a gente. Disse o soldado.
- Somos prisioneiros? Perguntou Sarita
O comandante deu um sorriso e nada respondeu.
O comandante e seis soldados partiram levando com eles Marko e Sarita, os outros mantiveram o povo cigano a mira de suas armas.
Cavalgaram por quase uma hora e adentraram ao povoado, as pessoas olhavam curiosas para os dois, mas nada falavam, o medo imperava naquele lugar.
No topo de uma elevação havia um imponente castelo, cercado por grandes arvores e muito bem guardado por muitos soldados.
Um grande portão de ferro separava a riqueza de seu morador da pobreza do povoado, por ali entraram os soldados com os ciganos, passaram por um grande corredor onde existiam muitas portas e foram deixados em uma grande sala, antes de trancar a porta o comandante disse:
- Vocês esperam aqui para serem recebidos pelo Duque e agradeçam por não estarem no calabouço que é o lugar onde deveriam estar.
Nesta sala uma grande mesa com algumas cadeiras e animais empalhados em todas as paredes, eram os troféus de caça do Duque, a sala era fria como todo o castelo.
As horas passando e Marko e Sarita prisioneiros naquela sala, as roupas molhadas, a sede, o sono pela noite não dormida aos poucos lhes roubava a coragem..
- Eu falei que você não devia vir filha. E agora?
- Jamais eu o deixaria sozinho meu pai, vamos nos preparar para o quem por aí.
- Temo por nosso povo minha filha, também são prisioneiros desse Duque.
- Tudo vai ficar bem pai, vamos confiar.
- Quem sabe você não consegue ler nas minhas mãos o nosso destino?
- Não me peça isso meu pai, acho que não quero saber o que nos aguarda.
- Por favor, filha, faça a vontade do seu velho pai, quem sabe não será minha ultima?
- Não fale assim meu pai, pensamentos negativos atraem energias negativas, pense positivo e eu vou fazer o que me pedes.
Marko estendeu a mão para a filha e ela com os olhos fechados fez uma oração silenciosa antes da leitura. A mão do velho pai tinha muitas linhas, algumas cortadas por cicatrizes e calos, mão de um homem que trabalhou toda a sua vida.
- O que vê minha filha?
- Vejo a sua linha da vida, é longa tem muitos anos pela frente, vejo também nosso povo abandonando este lugar e é você meu pai quem os guia. Viu? Nada errado.
- E porque não te vejo sorrindo filha?
- Nada pai, estou apenas cansada e com sede.
Sarita não contou ao pai que vira realmente a caravana deixando a cidade conduzida por ele, mas ela não estava com eles.

No final da tarde, dois soldados entraram na sala trazendo água e comida,
- Comam porque o senhor Duque resolveu atendê-los. Sejam rápidos já voltamos.
E realmente voltaram quase em seguida, mal deu tempo de colocar algo na boca, saíram mastigando o que podiam.
- Ao chegar perante o Duque vocês devem se ajoelhar, só falar se algo lhe for perguntado, não olhem diretamente para ele, mantenham sempre a cabeça baixa, agindo assim talvez ele reserve uma sorte melhor para vocês.
- Por mim eu os enforcava. Disse o outro soldado.
Foram entrando por um grande salão, Sarita olhava com os cantos dos olhos a riqueza daquele lugar era impressionante, um longo tapete vermelho se estendia da porta até o trono, quadros nas paredes, cortinas de veludo, lacaios vestidos como nobres, os soldados em traje de gala e finalmente ele, o Duque Dimitri, sentado no seu trono.
Os soldados empurraram os ciganos até sua presença e os forçaram a se ajoelhar.
- Então são esses os invasores? Perguntou o Duque
- Sim senhor Duque, o velho é o líder do bando.
- De onde vocês são velho? Perguntou o Duque.
- Somos de todos os lugares senhor, não temos pátria, somos pacíficos, vivemos da venda daquilo que fabricamos e comemos o que plantamos senhor. Somos ciganos.
- Pelo visto minha fama ultrapassou as fronteiras velho, o que dizem de mim por aí? Responda já que como você diz não tem pátria.
Marko pensou na resposta, não podia dizer o que ouvira e muito menos o que pensava. Não devia contrariar esse homem.
- Nada demais senhor, apenas que o senhor dirige seu reino com segurança e justiça, que não gosta de forasteiros, por isso tentamos passar ao largo para não contrariá-lo.
A resposta pareceu ter agradado ao Duque.
- Veja como são as coisas velho, para mim disseram que todo cigano é ladrão, que cigano bom é cigano morto. O que você acha disso?
- São historias senhor, não sabemos onde elas começaram e convivemos com essa discriminação em todos os lugares por onde passamos.
- E você mulher, o que tem a dizer em sua defesa?
Até aquele momento Sarita permanecera de cabeça baixa, não tinha coragem de enfrentar o olhar do Duque, sentia a energia negativa que emanava daquele homem. Levantou a cabeça e seu corpo gelou, aqueles olhos transmitiam maldade.
- Nada mais do que meu pai falou senhor, temos velhos, mulheres e crianças entre nós, somos uma grande família seguindo seu caminho.
O Duque ao ver o rosto da cigana, cabelos negros, olhos verdes, ficou encantado, não conseguia tirar os olhos da cigana que neste momento abaixou a cabeça.
- Olhe para mim cigana.
Sarita obedeceu e a muito custo tentava segurar as lágrimas que teimavam em cair.
- Porque chora cigana? Não sou seu executor, não sou malvado, sou apenas justo e tal qual o que falam de vocês é historia. Vocês não são ladrões e eu não sou um ditador e vou provar o que digo.
Chamou o comandante da guarda e ordenou:
- Você deve trazer essa família como disse a cigana, para perto do povoado, deve permitir que eles montem seu acampamento, vendam seus artefatos e podem partir quando quiserem, mas por hora são meus convidados.
- Vá velho, volte para os seus, mas fica o compromisso comigo, quero você e sua filha na minha presença dentro de dois dias, não me faça desfeita e não me obrigue a buscá-los.
Dito isto com um sinal deu por encerrada aquela entrevista, mas estava hipnotizado por aquela cigana, ela seria sua.
Marko e Sarita voltaram à estrada onde o povo cigano esperava, a carroça quebrada já estava em condições de viagem e escoltados pelos soldados foram em direção ao povoado.

Já era noite e o acampamento cigano foi montado, a fogueira acesa, o povo reunido, mas não havia musica, não havia a alegria de sempre, todos sabiam que eram prisioneiros. Na manhã seguinte não haveria a buena dicha, os artefatos ficariam guardados, não haveria venda, ninguém deixaria o acampamento, tinham que esperar os dois dias que o Duque exigira, usariam esse tempo para arrumar as carroças para uma nova viagem.

Dois dias que pareciam uma eternidade, o que esperar daquele louco, Sarita temia por sua vida, mas não contara ao pai, o velho cigano já tinha muitos problemas. Despediram-se dos ciganos e partiram rumo ao castelo, como o Duque não havia dito a hora chegaram cedo e Iriam esperar.
Foram encaminhados para aquela mesma sala, desta vez a porta ficou aberta e havia uma jarra com água para eles. Depois de algum tempo foram encaminhados ao Duque, os ciganos já sabiam o ritual, ajoelharam-se e permaneceram de cabeça baixa frente ao grande Duque.
- Como vocês estão sendo tratados cigano?
- Bem senhor. Estamos agradecidos
- Ouvi dizer e acho que desta vez não é historia, que as ciganas lêem a sorte nas mãos das pessoas, é verdade?
- Sim senhor Duque, algumas ciganas nasceram com esse dom.
- E você cigana? É uma dessas?
- Sim senhor. Disse Sarita
- Então venha até aqui e leia a minha mão, talvez você veja um futuro distante.
Era tudo que a cigana não queria, se estivesse sozinha iria recusar e enfrentar as conseqüências, mas vendo o pai de joelhos submisso e o povo cigano prisioneiro teve que concordar. Subiu os degraus que levavam até o trono segurou a mão do Duque estendida.
- Olhos fechados em oração, aquela mão fria na sua, o coração batia acelerado, não queria abrir os olhos para ver o que estava por vir.
- E então. Porque a demora? Disse o Duque.
Sarita abriu os olhos e descobriu porque não queria ver o que as linhas daquela mão revelavam, o futuro que aquela mão estampava não era do Duque, era o dela e mostrava muito sofrimento, seu futuro era negro, como negra era a alma do Duque.
Tentou se recompor e pela primeira vez mentiu ao consulente, disse que via muita fortuna, saúde, prosperidade no futuro dele, disse que suas façanhas ficariam escritas na historia, que seu nome seria lembrado por muitos e muitos anos.
O Duque não tirava os olhos da cigana, nem ouviu o que ela disse e retirou sua mão.
- Pode voltar ao seu lugar mulher. Cigano diga o preço.
- Preço do que senhor?
- Do dote de sua filha.
- Minha filha não está à venda senhor.
- Ouvi dizer que entre vocês quem pagar o maior dote fica com a mulher.
- Em parte é verdade senhor, mas no caso de minha filha isso não vai acontecer, já recusei ofertas de ciganos para se casarem com minha filha, mas prometi a minha mulher no seu leito de morte que nossa filha escolheria com quem se casar, o preço é o amor.
O Duque mostrou que a resposta o havia desagradado, seu rosto se contraiu, os olhos pareciam soltar faíscas de ódio e ele fez um sinal para que o comandante se aproximasse e falou algo ao seu ouvido.
- Vocês podem voltar para onde estavam, depois mando chamá-los.
Marko e Sarita foram conduzidos à sala e desta vez a porta foi fechada.
- Filha minha, o que vamos fazer?
- Não sei meu pai, esse homem me dá medo, ele é capaz de tudo para conseguir o que deseja, pode fazer atrocidades com o nosso povo.
- Prefiro morrer a permitir que esse homem se una a você minha filha.
- Vamos todos morrer pai, vamos orar por todos nós.

No acampamento todos aguardavam a volta de Marko e Sarita com uma boa noticia, quem sabe poderiam seguir viagem, sair daquele lugar, mas quem chegou foram os soldados do Duque invadiram o acampamento improvisado derrubando tudo que havia pela frente e o comandante disse:
- Doze bastam por enquanto.
Rapidamente os soldados prenderam doze ciganos, os mais fortes, os mais jovens, aqueles que formavam o alicerce do grupo e foram embora com os prisioneiros, amarrados um a um seguindo os cavaleiros.

No castelo Marko e Sarita oravam pela sorte dela e do povo cigano, um soldado entrou e novamente os levou a presença do Duque. O mesmo ritual, os dois ajoelhados perante aquele homem e ele disse:
- Velho. Vou te dizer o que não é historia. O que eu quero, eu tomo, não peço. Mas no seu caso ainda quero fazer uma troca. O que vale mais para você velho um ou doze?
- Marko não entendeu a pergunta, um ou doze o que queria o Duque?
- E então velho. Responda o que vale mais um ou doze?
- Doze senhor.
- Você é esperto velho, eis minha proposta. Como você já ouviu falar em minhas terras os ladrões são enforcados e tenho doze deles para trocar por sua filha.
Fez um sinal e os guardas trouxeram os ciganos amarrados e os colocaram de joelhos ao lado de Marko e Sarita.
- Vamos negociar velho? Lembre-se o que eu quero, eu tomo, você não tem muita escolha e digo mais, posso aumentar a oferta para vinte, trinta, tem muitos ladrões no lugar de onde vieram esses, inclusive crianças..
- Aceite meu pai.
Espero que um dia você me perdoe filha, trocaria minha vida pela sua felicidade, mas não tenho essa escolha. Perdoe-me filha. Adeus. Que Santa Sara fique ao seu lado.
- Pelo visto tomou a decisão certa velho, agora você tem um dia para deixar as minhas terras com o seu bando e não voltem nunca mais por aqui porque mando enforcar a todos. Saía das minhas terras vá embora, sua filha está em boas mãos e deu uma gargalhada.
Os soldados empurraram Marko e os doze ciganos para fora do castelo, Sarita continuava de joelhos e ainda de cabeça baixa.
- Chamem as camareiras, quero esta mulher limpa de toda essa sujeira, perfumada e vestida com roupas novas para me servir.
As mulheres entraram e ajudaram Sarita a se levantar em seguida a levaram para os aposentos do Duque.
Enquanto isso Marko acompanhado dos ciganos chegava ao acampamento, àquelas horas de aflição no castelo haviam acrescentado vários anos a sua vida, estava cansado de tudo,
Perdera a filha querida, sentia-se impotente para continuar guiando seu povo, o velho líder chamou um dos ciganos e pediu que ele liderasse a caravana para longe daquelas terras, depois o tribunal cigano escolheria um novo líder, a partir daquele dia ele e sua carroça seriam os últimos.

No castelo as camareiras banharam a cigana com óleos perfumados, pentearam seus longos cabelos negros, roupas finas e muitas jóias, estava linda, parecia um anjo, um anjo triste, e orgulhoso com uma lagrima solitária descia dos seus olhos.
- Precisa mais alguma coisa moça? Perguntou uma velha camareira.
- Quero uma rosa senhora.
- Não me chame de senhora, sou mais uma das infelizes que Deus colocou neste lugar para pagar nossos pecados, seja forte menina, Deus está com você e ele não abandona seus filhos, vou buscar sua rosa.
Sarita parou diante do grande espelho e viu a transformação, se a situação fosse outra ia se achar linda, retirou a tiara de diamantes dos cabelos e colocou a sua rosa, podiam mudar sua forma de vestir, podiam matar sua vontade de ser livre, mas ninguém no mundo poderia fazer com que ela deixasse de ser cigana.

A caravana cigana abandonava aquelas terras deixando para trás a sua alegria, mais uma vez foram vitimas e mais uma iriam superar, assim estava escrito. O povo cigano na estrada e a cigana da rosa nos braços de seu carrasco.
O que passou a jovem cigana foi algo que não merece ser lembrado, foi agredida, espancada por aquele animal, ele roubou sua inocência e a abandonou a própria sorte.
Na manhã seguinte a camareira a encontrou muito machucada, o sangue manchara os lençóis mostrando que ela era uma virgem, com muita pena a velha camareira ajudou Sarita a se levantar, cuidou dos seus ferimentos e a levou a um quarto nos fundos do castelo, seria seu novo lar por ordem do Duque. As jóias e as roupas finas ficaram sobre uma cadeira, para mostrar que ela não foi comprada, continuava livre e cigana.

Já bem distante das terras do Duque Célio que agora guiava o povo cigano notou que a carroça de Marko já não acompanhava as outras, estava parada ao lado da estrada, ordenou que parassem e foi verificar o que estava acontecendo. Ao se aproximar achou que Marko estava dormindo, nada mais justo havia passado por maus bocados, se pudesse deixaria ele descansando, mas a caravana não podia parar, então chamou por ele:
- Pai grande temos que seguir, depois você descansa!
Não houve resposta então Célio desceu do cavalo e subiu na carroça, o velho cigano não estava dormindo, estava morto.
- Quanta desgraça meu Deus, o que fizemos para dar tudo errado? Ele era um bom homem, um bom pai, um grande líder de nosso povo e parte assim de repente, eu não entendo senhor.
A noticia da morte de Marko correu como rastilho de pólvora entre as carroças, homens, mulheres, crianças desceram de suas carroças e vieram até onde estava o velho cigano, alguns homens o retiraram de sua carroça e colocaram seu corpo sem vida no chão, o povo cigano que ainda não havia chorado pela perda de Sarita, chorava agora pela perda dos dois.

No castelo Sarita sentiu que alguma coisa havia acontecido e mesmo sem saber o que era começou a chorar, a velha camareira se aproximou e disse:
- Não chore menina, o pior já passou, talvez o Duque nunca mais volte a vê-la e depois de algum tempo você poderá voltar para o seu povo.
- Nunca mais vou voltar para a minha gente, eu sei disso, choro por meu pai.

O enterro de Marko foi rápido e triste, desta vez o povo cigano não pode homenagear seu líder como devia e sua carroça não foi queimada como mandava a tradição, por ordem de Célio ela voltaria a liderar a caravana, era a herança de Sarita e um dia ela viria buscar..

A cigana da rosa era como todos a conheciam naquela parte do castelo, ficou amiga dos serviçais e se apegou muito a velha camareira que se chamava Brenda, a cigana linda e juvenil que havia chegado ao castelo hoje era outra pessoa, um pássaro engaiolado, não se cuidava, mal vestida, havia comida, mas ela recusava e o pouco que comia voltava, parecia muito doente, queria morrer aquilo não era vida, mas jamais deixou de usar a sua rosa nos cabelos.
- Filha. Disse brenda. Acho que você está grávida.
- Não me diga isso pelo amor de Deus Brenda, não posso gerar o filho do monstro.
- Ele ou ela não tem culpa menina foi concebido no ódio por isso deve ser amado.
- Amado por quem Brenda? Aquele animal nem sabe que espero um filho dele. Maldito seja.
- Não fale assim minha filha, esse ser que você carrega no ventre pode ser a resposta para muitas perguntas, quem sabe não é ele quem trará a luz para as nossas terras?
- Duvido muito amiga, se depender de mim ele não terá essa chance.
Os dias e meses que se seguiram foram terríveis, a cigana não se alimentava, o pouco que comia era quase forçado por Brenda e lutando contra tudo o filho indesejado crescia em sua barriga. No oitavo mês da gestação Sarita mal conseguia ficar de pé, Brenda cuidadosa ajudando sempre, achava que aquela criança mudaria o mundo e tudo faria para que ele vivesse, fazia caldos e sopas para manter um pouco de saúde no corpo da mãe para a chegada do filho. Então em uma noite as dores do parto, Sarita estava tão fraca que não tinha forças para ajudar seu filho nascer e na realidade não queria ajudar, Brenda correndo de um lado para o outro, fervendo água, trazendo panos e rezando por aquela criança.
- Tente fazer força cigana, mostre a guerreira que você sempre foi, mostre para todos a força da sua raça, lembre-se do seu pai cigana.
- A citação do seu pai fez com que a cigana passasse a ajudar.
- Meu pai. Sim meu pai eu vou fazer força e vamos nos encontrar de novo.
Um último esforço e a criança veio ao mundo enquanto sua mãe o deixava.
A vida é como um grande castelo, duas portas, por uma se entra, por outra se sai e foi o que aconteceu.
Brenda abraçou a criança, era uma menina linda como a mãe, cortou seu cordão e a cobriu com alguns lençóis, olhou para Sarita sem vida e chorou, naquele momento resolveu que esconderia a criança.

A noticia da morte da cigana chegou ao Duque Dimitri, ele mal se lembrava dela, era apenas mais uma de suas muitas conquistas e nem mesmo ao saber que estava grávida e que a criança morrera no ventre da mãe o abalou. Ordenou que a enterrassem longe do castelo e que fosse esquecida.

Brenda feliz da vida tinha agora uma filha e deu-lhe o nome de Bárbara, na realidade já tinha um filho que era um dos soldados do Duque, mas ele estava sempre distante, raras vezes vinha ao castelo e em uma dessas vindas conheceu a menina e se encantou com a criança, a mãe não escondeu sua historia e isso fez com que ele se apegasse à menina.

Sete anos se passaram, Bárbara era uma criança linda, muito parecida com a mãe, os cabelos negros, os olhos verdes, a pele morena clara, muito alegre e ativa, não obedecia muito as ordens que diziam que ela devia ficar naquela parte do castelo, curiosa todos os dias andava pelo castelo, indo cada vez mais longe em suas descobertas.

Um dia andando por onde não era permitida a sua presença encontrou o Duque, ele ao ver a criança ficou paralisado, era a cigana, como era possível duas pessoas tão parecidas, aqueles olhos verdes não tinham iguais.
- Venha cá menina. Disse o Duque.
Ela se assustou e saiu correndo dali, o Duque chamou pelos guardas e mandou que seguissem e trouxessem aquela criança a sua presença.
Bárbara já estava nos braços de Brenda quando foi alcançada pelos guardas.
- O Duque quer que levemos a menina até ele.
- Porque? Disse Brenda. Ela é apenas uma criança, não faz mal a ninguém.
- Disso nós sabemos, mas são ordens do Duque, se quiser venha com ela.

Meu Deus. Pensou Brenda, ele vai mandar me matar quando descobrir que a menina é sua filha.
Chegando a presença do Duque a menina estava assustada e ele não tirava os olhos da criança, era o mesmo rosto da cigana.
- Filha de quem é essa menina? Perguntou o Duque.
- Ela é órfã senhor. A mãe morreu durante o parto e eu a crio.
- E quem era a mãe?
- Não vou mentir senhor, era aquela cigana que o senhor mandou que eu cuidasse.
- Quantos anos tem essa criança?
- Sete senhor.
- E quem é o pai? Com certeza algum cavalariço.
- Desculpe senhor, mas preciso dizer.
- Diga logo quem é o pai dessa criança.
- É o senhor meu Duque.
Dimitri ficou calado e com um sinal dispensou a todos, queria ficar sozinho.
Brenda com a criança no colo voltou aos seus aposentos, sabía que o Duque mais cedo ou mais tarde tomaria uma atitude, temia por sua vida e pela da criança.
Aquela foi uma noite estranha, Brenda que por sinal era a mãe desse nosso amigo que nos visita não dormiu com medo do que o Duque poderia fazer e o Duque não dormiu pensando ora na criança, ora na cigana e ao amanhecer chegou à conclusão que eram a mesma pessoa.
Levantou muito cedo e mandou os soldados buscarem Brenda com a criança e elas foram trazidas até ele.
Bárbara se ajoelhou e mandou que a criança fizesse o mesmo, mas a Duque impediu.
- Ela não é minha filha?
- É sim senhor Duque.
- Então não deve reverencia a ninguém, é uma Duquesa. E você a partir de hoje vai se mudar para os meus aposentos com a criança, que nada lhe falte e pensei muito durante a noite, vou te recompensar pelo que fez.
- Obrigado senhor, vamos nos mudar hoje mesmo.
E assim foi feito Bárbara agora era a filha do Duque Dimitri, quando ela passava todos tinham que fazer reverencia, para ela tudo era engraçado, as pessoas se abaixavam e ela se abaixava também, todo o ódio e o medo que o Duque inspirava, a filha pelo contrário transmitia segurança e amor.
Dimitri com a criança ao lado mudou completamente, claro que não virou um anjo, mas, se tornou menos duro com as pessoas, algumas vezes chegou a ser bom e todo mundo sabía que Bárbara havia conseguido um milagre.
Depois que completou 14 anos Bárbara passeava pelos jardins do castelo e parou em frente a uma roseira, retirou uma rosa e colocou nos cabelos.
A cigana da rosa estava de volta.
Um dia chegando de viagem Dimitri entrou no castelo e encontrou a filha sentada em seu trono com uma rosa no cabelo, seu sangue gelou, o coração disparou e o medo tomou conta daquele homem.
- É aquela cigana que voltou para se vingar.
A menina nem conhecia a historia da mãe, agira por impulso e gostara, usaria sempre uma rosa nos cabelos. O Duque pelo contrário estava assustado e mudou o comportamento, andava pelos corredores do castelo procurando quem era o seu assassino, mal se alimentava com medo de ser envenenado, o terror que durante anos havia imposto ao povo agora ele sentia na carne, não confiava em ninguém, vivia trancado em seus aposentos, não atendia ninguém, nem mesmo os médicos queria ver, a única pessoa que conseguia falar com ele era Bárbara.
Diante da filha ele se ajoelhava submisso, cabeça baixa, só falava quando ela perguntava alguma coisa, a menina não entendia o comportamento do pai, tentava demovê-lo dessa loucura que o estava matando aos poucos, o inimigo dele era ele mesmo.
Bárbara assumiu o controle das propriedades do pai, seu jeito sereno e contagiante logo conquistou todo o povoado e redondezas e ela era humana, foi ao encontro do povo e ouviu suas queixas, mudou tudo, devolveu a vida àquelas pessoas e eles agradeciam tudo que conquistavam á Duquesa da Rosa.

A vida nos ensina, mas nós não queremos aprender, as lições nos são dadas todos os dias.

Durou exatos oito meses a agonia do Duque Dimitri, o mesmo tempo que durou a agonia da Cigana da Rosa, durante oito meses ela tentou morrer, durante oito meses ele tentou viver.
Dimitri desencarnou no dia que Bárbara completou 15 anos e só depois da passagem do Duque foi que Brenda já bem velhinha contou a Duquesa a historia de sua mãe.

Não me canso de ouvir e nem de contar essa historia disse Kael ao amigo gadje, ele sorriu e disse:
- Nem eu amigo.

Agora meus amigos. Disse Kael acho que nem preciso dizer de quem é aquela carroça vazia que há muitos anos acompanha nossa caravana. È a carroça da cigana da Rosa e nós vamos entregá-la a sua filha a Duquesa da Rosa, uma cigana nobre ou se preferirem uma nobre cigana.
Vamos dormir porque amanhã o povo cigano é o dono da cidade, Santa Sara será homenageada por todos, ciganos e não ciganos que são agradecidos a Duquesa da Rosa vão participar da nossa festa.
Salve você Pai grande Marko
Salve a Cigana da Rosa,
Salve a Duquesa da Rosa,
Salve Santa Sara
Salve o povo cigano.
Hoje, amanhã e sempre.
Gidelson E. da Silva

sábado, 12 de julho de 2008

A MINHA CASA


Não sei dizer quanto tempo se passou até que me dessem autorização para essa busca, também não sei dizer quanto tempo estive procurando e com alegria agora posso dizer que ela chegou ao fim.
- Vá amigo procure uma casa onde você possa abrigar todo o seu povo.
- Agradeci e parti em busca desta casa, eu que nunca tive uma agora preciso encontrar aquela que vai abrigar toda a minha família.
- Conheci muitas casas, em algumas fui até bem aceito, tudo nelas lembravam meu povo as cores, o incenso, as roupas, o misticismo, mas alguma coisa me dizia que não era ali o meu lugar.
- Em outras fui expulso, maltratado me chamavam de demônio ou enviado dele, não guardo mágoas porque trago em meu coração as palavras do mestre e ele me ensinou a perdoar. Encontrei casas em que fui aceito, mas impunham condições, queriam que eu fizesse parte de algo que ia contra meus princípios, então me afastei e continuei procurando.
- Uma luz diferente me trouxe até esta nova casa, na porta havia um guardião, um guerreiro garboso, muito serio.
Cheguei a pensar que seria barrado, mas não foi o que aconteceu, ele me cumprimentou com um movimento da cabeça e abriu a porta para que eu entrasse.
Agradeci e pedi licença para entrar, era uma casa muito humilde, não havia ostentação a diferença estava na luz, era iluminada como o sol nascente.
- Fui entrando naquela casa devagar olhando os detalhes, alguns bancos com pessoas sentadas, passei por elas e me encaminhei para o local que irradiava toda aquela luz, uma imagem de Jesus no centro de um altar, em sua volta pessoas vestidas de branco em oração e ao lado deles entidades diferentes que aos poucos fui conhecendo, eram índios, caboclos, velhos escravos, crianças, boiadeiros, baianos e todos sorriam para mim.

- Seja bem vindo irmão, que a paz de Oxalá ilumine todo o seu povo.

Confesso que faltaram palavras naquele momento, eu que em toda minha vida fui discriminado, perseguido, maltratado era recebido por todos como um irmão, fiquei feliz havia encontrado o que tanto buscava, um lugar de paz onde o meu povo poderia cumprir a sua missão.

- Hoje esta casa é a minha morada e a do meu povo, hoje podemos galgar os degraus da evolução, praticando o amor e a caridade para todos que aqui vierem em busca de auxilio espiritual.

Sou o cigano Michel e minha casa se chama Umbanda.

Gidelson E. da Silva

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A CARAVANA DE LUZ


Noite cheia de estrelasA lua clareia as aguas do rio que segue tranquilo em seu leito.
Logo adiante, em meio a uma clareira está o acampamento cigano.
O local previamente escolhido está calmo e sereno.
Esta noite os violinos estão silenciosos, não existem danças, a alegria se ausentou, o povo cigano está triste.
Em um dos carroções em seu leito de morte está Mirko, ao seu lado a fiel companheira de tantas lutas e viagens, Raquel..
A velha cigana, a curandeira da tribo ainda coloca sobre sua testa algumas folhas para aliviar a febre que aos poucos vai minando as forças do velho cigano.
Ela sabe que a sua luta é ingloria, o cigano está partindo, mas deixa a mulher, os filhos, os amigos ciganos e também uma lição de vida para os jovens da tribo.
Mirko um dos ciganos mais respeitados da nação cigana, cumpriu sua missão terrena e parte para o além.
Somente a velha curandeira consegue ver, que logo ali, pertinho está a nova tribo de Mirko, a caravana pronta para seguir viagem, esperando apenas o seu velho companheiro.
Um ultimo olhar para o alto, um sorriso apagado e Mirko ainda consegue dizer algumas palavras para a companheira.
- Minha fiel Raquel, parto em busca de novos campos, novas fronteiras, rumo ao criador, não chore, fique feliz por mim , fique feliz pela gente,Eu consegui e te espero, algum dia volto para te buscar, cuide dos nossos filhos, mantenha unida a nossa família e o nosso povo.
Um longo suspiro e Mirko partiu rumo a eternidade.
È recebido por velhos companheiros, seus pais, amigos de outras vidas, todos unidos novamente.
Lágrimas de felicidade no rosto do cigano, estava de volta ..
Tudo pronto, o grupo está partindo e com eles velho companheiro, e a Caravana de Luz que segue rumo ao infinito.

Gidelson E. da Silva

quinta-feira, 10 de julho de 2008

CIGANA ... EU SEI E AGORA VOCÊ SABE ....


SEI DAS SUAS DÚVIDAS,
QUANDO VOCÊ OUVE OUTRA PESSOA DIZER ;
EU TENHO A MINHA
VOCE FICA SE PERGUNTANDO:E EU ?
SERÁ QUE TAMBEM TENHO A MINHA?
BEM BAIXINHO EU RESPONDO:
TEM. MINHA IRMÃZINHA, SOU EU
MAS VOCÊ NÃO SE PERMITE ME OUVIR
SEI DO SEU INTERESSE QUANDO FALAM DE MINHA GENTE
SEUS OLHOS BRILHAM E O DESEJO DE APRENDER PARECE SUPERAR A SUA TIMIDEZ,
SENTE VONTADE DE ACRESCENTAR ALGO AO TEMA,
MAS, INFELIZMENTE VOCÊ SE CALA,
SEI DA SUA ALEGRIA QUANDO TOCAM A MUSICA DO MEU POVO
SEU SANGUE PARECE FERVER NAS VEIAS,
SEU CORAÇÃO BATE ACELERADO,
SEU CORPO SE CONTRAI EM UM DESEJO LOUCO DE SAIR DANÇANDO,
E MAIS UMA VEZ VOCÊ SE PROIBE E SE RETRAI.
VOCÊ ME PROCURA NA DÚVIDA E EU TE ENCONTRO NA CERTEZA
ENTÃO EM SONHOS ME REVELO E JUNTAS,
ESPÍRITOS IRMANADOSVOAMOS E DANÇAMOS PELO ESPAÇO AO SOM DA MELODIA
DO CRIADOR DE TODAS AS COISAS.
AO ACORDAR VOCÊ NÃO SE LEMBRA.
E O QUE RESTOU, SÃO IMAGENS
OPACAS E DISTORCIDAS DE ALGO SUBLIME QUE SE PASSOU
E ESTAS IMAGENS LEMBRAM A MINHA PRESENÇA
.TÃO PERTO E AO MESMO TEMPO TÃO DISTANTE MINHA IRMÃZINHA.
MAS CABE A VOCÊ MUDAR TUDO
LIBERTE-SE DAS CORRENTES DA DUVIDA E DA INCERTEZA
SONHE ACORDADA,
E DEIXE SEU ESPÍRITO VIAJAR COMIGO MAIS UMA VEZ
ABRA A PORTA DO SEU CORAÇÃO,
SOU EU QUE ESTOU BATENDO.
NÃO FOI TÃO DIFÍCIL,
ERA SÓ ACREDITAR
AGORA JUNTAS PODEMOS ESPALHAR A ESPERANÇA
JUNTAS PODEMOS ELEVAR MAIS ALTO O NOME DAQUELEQUE NOS CRIOU
E DIVULGAR OS SEUS ENSINAMENTOS A TODOS QUE NOS PROCURAREM.
MEU NOME?
NÃO IMPORTA EM BREVE VOCÊ SABERÁ
POR ENQUANTO,
QUANTO LHE PERGUNTAREM SOBRE MIM
VOCE PODERÁ RESPONDER COM TODAS AS LETRAS
ELA É A MINHA CIGANA.
Gidelson E. da Silva

SARA, SARINHA, SARITA ... ELES ESTÃO CHEGANDO


LIMPE SUA MENTE DE TODOS OS MAUS PENSAMENTOS.

ABRA SEU CORAÇÃO PARA RECEBER A LUZ

AGORA FAÇA DELE UMA CLAREIRA EM MEIO A MATA.

LOGO ADIANTE ESTA A ESTRADA, O RIO LIMPO E SERENO PASSA ALI PERTINHO.TUDO PRONTO,

VAMOS AGUARDAR

OUÇA O TILINTAR DOS ARTEFATOS BATENDO UNS NOS OUTROS,
OUÇA O TROTAR DOS CAVALOS,
O RISO ALEGRE DAS CRIANÇAS,
A VOZ FORTE DOS HOMENS E O CANTO DAS MULHERES.

A ALEGRIA ESTÁ CHEGANDO E COM ELA, A CARAVANA DE LUZ.

UMA A UMA AS CARROÇAS VÃO ENTRANDO EM SEU CORAÇÃO.
FORMAM UM CÍRCULO PERFEITO,
SEM INICIO OU FIM, REPRESENTANDO A ETERNIDADE.

OS HOMENS SE APRESSAM EM ACENDER A FOGUEIRA QUE AGORA VAI AQUECER O SEU CORAÇÃO
AS MULHERS PROVIDENCIAM O ALIMENTO PARA A SUA ALMA
AS CRIANÇAS CORREM, BRINCAM E ESPALHAM ALEGRIA POR TODO O SEU SER
.TUDO PRONTO,

O ACAMPAMENTO CIGANO SE INSTALOU EM SEU CORAÇÃO.

VOCÊ SE SENTE QUERIDA, AQUECIDA, ALIMENTADA, FELIZ.
A FESTA DESTA NOITE É EM SUA HOMENAGEM.

TODOS EM VOLTA DA FOGUEIRA,
O CHEFE DO CLÃ INICIA UMA ORAÇÃO PARA AGRADECER A DEUS E A SANTA SARA PELO CORAÇÃO ENCONTRADO, TODOS AGRADECEM

AS CRIANÇAS SÃO AS PRIMEIRAS A SAIR CORRENDO FELIZES APÓS A ORAÇÃO.
O SOM DE UM VIOLINO CORTA A NOITE,
AS CHAMAS DA FOGUEIRA PARECEM INICIAR A DANÇA.
OS MAIS VELHOS BATEM PALMAS,
OS JOVENS SAEM DANÇANDO AO SOM DA MELODIA.

SUA ALMA CIGANA FALOU MAIS ALTO,
VOCÊ RODOPIA FELIZ,
A SAIA RODADA, O LENÇO, OS ANÉIS, AS PULSEIRAS SURGEM POR ENCANTO.

VOCÊ É UMA CIGANA

O TEMPO PASSA E VOCÊ NEM SE APERCEBE,
FECHA OS OLHOS E SENTA PARA DESCANSAR.
AO ABRI-LOS O DIA JÁ RAIOU, A CARAVANA DE LUZ PARTIU.

QUE PENA,
BEM QUE ELES PODIAM FICAR PARA SEMPRE EM SEU CORAÇÃO,
MAS ELES SÃO CIGANOS,
PARTIRAM EM BUSCA DE UM NOVO CORAÇÃO.

NÃO FIQUE TRISTE.ELES DEIXARAM A FOGUEIRA,
VOCÊ NUNCA MAIS SENTIRÁ O FRIO DA SOLIDÃO.
DEIXARAM ALIMENTO PARA ALIMENTAR SUA ALMA
DEIXARAM A ALEGRIA E É TANTA QUE VOCÊ PODE DIVIDI-LA COM TODO O MUNDO.

DEIXARAM A ESPERANÇA DE DIAS MELHORES,
A SABEDORIA E A CERTEZA QUE VOCÊ ESTÁ PRONTA.E POR FIM DEIXARAM A CIGANA QUE VOCÊ SEMPRE FOI,

AGORA COM UMA MISSÃO.

A CIGANA TEM O DOM DA PALAVRA, DE SEUS LÁBIOS SAIRÃO PALAVRAS DE ESPERANÇA, DE FÉ, DE HUMILDADE, DE AMOR.
PALAVRAS QUE AQUECERÃO CORAÇÕES SOLITÁRIOS,
PALAVRAS QUE LEVARÃO A PAZ,
QUE ILUMINARÃO CAMINHOS,
PALAVRAS QUE ESPALHARÃO ALEGRIA
E SANTA SARA ESTARÁ COM VOCÊ.

NUNCA SE ESQUEÇA DE DAR DE GRAÇA O QUE DE GRAÇA ACABOU DE RECEBER.

UM DIA EM UM FUTURO DISTANTE, QUANDO SUA MISSÃO TIVER SE ENCERRADO,
A CARAVANA DE LUZ VAI VOLTAR
E DESTA VEZ, PARA TE BUSCAR CIGANA.
Gidelson E. da Silva